Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 16,9-15)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes. Por isso, se vós não sois fiéis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores: porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Os fariseus, que eram amigos do dinheiro, ouviam tudo isso e riam de Jesus. Então Jesus lhes disse: “Vós gostais de parecer justos diante dos homens, mas Deus conhece vossos corações. Com efeito, o que é importante para os homens, é detestável para Deus”.
Celebramos hoje a Memória de São Leão Magno, Papa e Doutor da Igreja. O grande Papa Leão Magno viveu durante um tempo atribulado da Igreja — atribulado pelas heresias e pelas invasões bárbaras.
Mesmo antes de ser Papa, quando ele ainda era arcediago, ou seja, o primeiro dos diáconos de Roma, fez de tudo para combater as heresias. Já digladiou com as heresias de Nestório, durante a época do Concílio de Éfeso; mas ali somente estimulava a que os bispos cumprissem o seu dever.
Depois, quando foi eleito Papa, em 440, logo em seguida já começou a combater outras heresias, que vinham do norte da África, como o pelagianismo e o maniqueísmo, porque a África, naquela época, tinha sido invadida pelos vândalos, e os hereges vinham pela Península Itálica; mas também outras heresias, que vinham do Oriente, como o monofisismo, que terminou sendo condenada no Concílio de Calcedônia, em 451.
É famosíssima a carta de São Leão Magno ao Patriarca de Constantinopla, Flaviano, defendendo o mistério de Cristo. As homilias de São Leão Magno são verdadeiras jóias preciosas, que são objeto de meditação da Igreja inteira durante o tempo do Natal. No tempo do Natal, São Leão Magno é o grande Doutor que ensina à Igreja o mistério da Encarnação, da bondade de Deus que se fez homem: plenamente homem, plenamente Deus, com uma unidade sem confusão, com uma distinção das duas naturezas, mas sem separação.
São Leão Magno também combateu os bárbaros. Percebemos, assim, qual foram os desafios deste grande Papa: inimigos internos da Igreja com as heresias, inimigos externos com os bárbaros, ou seja, aquilo que assolava toda a Península Itálica e todo o Império Romano, decadente na sua época. Ele conseguiu deter o famoso Átila, rei dos hunos.
Mas o povo de Deus, o povo que deveria ter louvado e agradecido a Deus por esse santo homem que deteve o flagelo de Deus, o castigo às portas de Roma, não se converteu. Não se converteu o suficiente e, anos depois, o castigo de Deus pesou a sua mão sobre o povo romano. Genserico, rei vândalo, invadiu a cidade de Roma, saqueou-a, e foi grande a miséria e a destruição. São Leão Magno não poupou os seus fiéis, para que eles compreendessem: Deus é bom para conosco, Deus nos protege, mas Deus não nos protege de nós, Deus não nos protege dos nossos pecados e do vândalo que está dentro de nós mesmos.
Nós também precisamos bater no peito e compreender: os inimigos são tão mais perigosos quanto mais íntimos eles são. Ou seja, sim, podemos ser perseguidos por fora; mas, na realidade, só existe um único inimigo que pode nos levar para o Inferno: somos nós mesmos. Só eu posso me levar para o Inferno. O diabo pode atacar; os hereges podem seduzir; os bárbaros podem perseguir; mas somente eu, abandonando a graça e a bondade de Deus que se fez homem, sou capaz de condenar-me eternamente para o fogo da punição eterna.
Então, vamos nos debruçar diante dos ensinamentos de São Leão Magno e confiar enormemente na misericórdia de Deus, do Deus bondoso que nos protege e que quer, com a nossa docilidade, que nós nos protejamos de nós mesmos.
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