CNP
Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
Todos os direitos reservados a padrepauloricardo.org®
Texto do episódio
957

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10, 1-12.17-20)

Naquele tempo, o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. E dizia-lhes: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós.
Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’.
Mas, quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: ‘Até a poeira de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo!’
Eu vos digo que, naquele dia, Sodoma será tratada com menos rigor do que essa cidade”.
Os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome”. Jesus respondeu: “Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”.

Neste 14º Domingo do Tempo Comum, a Igreja proclama o Evangelho de São Lucas, capítulo 10, versículos do 1 ao 12 e do 17 ao 20. É o Evangelho em que Nosso Senhor envia os 72 discípulos em missão.

Aqui, é importante observarmos que Jesus já havia escolhido os Doze, que representavam uma espécie de refundação do povo de Deus. Ora, no Antigo Testamento, os membros de tal povo tinham de ter laços sanguíneos com os doze filhos de Jacó — pois ninguém se converte ao judaísmo, mas nasce-se judeu; o vínculo é de sangue. Agora, porém, Cristo quer realizar a promessa feita a Abraão: sua descendência será tão numerosa quanto as estrelas do Céu, ou como os grãos de areia das praias do mar. Mas é claro que a realização de tal promessa não será possível se contarmos apenas os descendentes biológicos do Patriarca. Este tinha outra forma de gerar filhos: era pela fé. 

Doravante, porém, o povo de Deus será fundado pelos Doze Apóstolos de Cristo, que não exigem mais laços sanguíneos, senão laços de fé. Assim, fiéis ao “ide” de Jesus, eles saem pelo mundo a fim de levar a Palavra do Evangelho, a fé. Eis a missão dos Apóstolos. 

Mas o Evangelho de São Lucas nos apresenta uma informação exclusiva: além dos Doze, havia um grupo seis vezes maior, composto por 72 discípulos, também enviados em missão. O Evangelho deste domingo nos diz que Jesus os enviou, dois a dois, a fim de preparar o caminho para a semeadura da Palavra. 

A liturgia, embasada na Tradição da Igreja, reconhece nesses 72 homens o prenúncio dos padres. Sabemos que a Igreja é fundamentada sobre os Apóstolos e sobre os seus sucessores, os bispos. Jesus deu poder à Igreja, e tal poder é representado pelos sucessores de Pedro e dos Apóstolos. Em Roma, o Papa é o sucessor de Pedro; e espalhados pelo mundo inteiro, os bispos são os sucessores dos Apóstolos. Mas todos em perfeita comunhão com a Sé de Pedro. 

Assim, no episcopado jaz o núcleo da Igreja Católica, como disse Santo Inácio de Antioquia: “Ubi episcopus, ibi ecclesia”, ou seja, onde está o bispo, aí está a Igreja. Se perdermos o episcopado, perderemos também toda a Igreja. Isso porque, para que a Igreja siga existindo, é preciso haver bispos com fé católica fazendo a sucessão apostólica. Ora, sem bispos não poderemos ordenar padres e, sem padres, não teremos a Eucaristia — e sem Eucaristia, não teremos mais Igreja. Portanto, é evidente que sem a sucessão dos bispos, a Igreja literalmente desaparecerá da face da Terra. 

E sucessão apostólica quer dizer uma só coisa: a mesma fé dos Apóstolos. Com isso, a Igreja tem o mesmo poder dos Doze de ordenar bispos e padres, de perdoar os pecados, de celebrar a Eucaristia e de expulsar os demônios. Essa é a comunidade da Igreja ao longo dos milênios. 

Agora que já entendemos o fundamento apostólico, podemos começar a enxergar melhor a missão dos padres. Afinal, no cotidiano da paróquia, as pessoas têm contato com os padres, não com os bispos. E o padre é o colaborador da ordem episcopal — o sacramento da Ordem diz que o sacerdote está ligado diretamente à ordem episcopal. Ou seja, o padre é como um daqueles 72 enviados por Jesus. São esses que têm a missão de auxiliar os Apóstolos na pregação do Evangelho e no cumprimento da sua missão. 

Geralmente, não atinamos para o fato de que o padre tem uma missão limitada. No site, com frequência, recebemos pedidos para tomar partido de alguma perspectiva, dar opinião sobre algum tema polêmico etc. É claro que há temas sobre os quais eu, enquanto padre, jamais poderei me omitir — pelo contrário: tenho o dever de intervir. Mas também é verdade que existem assuntos que simplesmente não estão no escopo da minha missão de presbítero. Porque, na Igreja, há questões que só os bispos têm autoridade para resolver. Por exemplo: um padre não tem poder para excomungar alguém, decisão que só cabe a um dos sucessores dos Apóstolos.

Assim, o Evangelho deste domingo nos ajuda a entender que a Igreja tem dois tipos de sacerdotes, por assim dizer: o bispo e o seu auxiliar, o padre — que são chamados de sacerdotes  pelo Código de Direito Canônico. A Igreja ensina que é próprio do sacerdote o oferecimento do sacrifício e o perdão dos pecados; e tanto o padre quanto o bispo oferecem o sacrifício do altar e, no confessionário, perdoam os pecados. O que não é permitido aos diáconos — por isso, eles não são chamados de sacerdotes. 

Mas há coisas na Igreja que só os bispos podem fazer, porque eles têm a plenitude do sacerdócio — o que o padre não tem. Ora, numa linguagem metafórica, quando um copo está repleto d’água, ao transbordar ele pode transmitir o líquido a outros copos, porque tem a plenitude da água. O bispo, que tem a plenitude do sacerdote, pode ordenar outros bispos e padres — mas o padre não pode transmitir isso aos outros. 

Essa explicação esclarece nossas ideias, porque — insistimos — antes de aplicarmos tais verdades à nossa vida, é preciso ter as ideias esclarecidas. E esse é o problema de muitos na Igreja: por falta de discernimento, acabam vivendo uma espiritualidade sentimental, sem fundamento na verdade. 

Mas, além do episcopado e do presbiterado, há outro elemento importante na profissão de fé, que é o entendimento do que Nosso Senhor fez ao instituir o sacerdócio — de bispos e padres. Ora, Jesus lhes deu poder — o que é inconcebível para os protestantes. Se pudéssemos definir qual é  a diferença entre católicos e protestantes, diríamos simplesmente: o sacerdócio. Isso porque o mundo protestante é um cristianismo sem sacerdócio ministerial; eles não creem que haja homens que receberam de Jesus um poder que os outros batizados não têm. No “democrático” protestantismo, todos os poderes do pastor também cabem à pessoa do “leigo”. 

Mas o pastor protestante não tem poder para oferecer o sacrifício da Eucaristia, perdoar os pecados, administrar sacramentos que os leigos não podem administrar, pregar a Palavra e expulsar os demônios. Tudo isso é dado pela Igreja Católica, que está fundamentada no poder dado por Nosso Senhor aos Apóstolos. 

Ao enviar os Doze, Jesus lhes disse: “A messe é grande, os trabalhadores são poucos” (Lc  10, 2). E, dizendo isso, deu-lhes poder: “Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo, e nada vos poderá fazer mal” (Lc 10, 19). Jesus está usando uma linguagem metafórica para dizer que deu poder àqueles 72 homens para expulsar os demônios. E isso é tão verdadeiro que Ele mesmo esclarece no versículo 20: “Contudo, não vos alegreis, porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque os vossos nomes estão escritos no Céu”. Com essas palavras, Nosso Senhor está ensinando aos padres a humildade, porque um dia estarão na glória divina, no Céu. 

E qual é, afinal, a aplicação prática disso tudo? Ora, nós católicos devemos nos alegrar quando pensamos no sacerdócio. Isso porque, diante de um padre, estamos na presença de alguém agraciado com o poder de Jesus. Nosso coração deveria se encher de alegria quando pensamos no sacerdócio — não na pessoa de um padre especificamente, mas na realidade mesma do sacerdócio. Deus concedeu esse tipo de poder aos homens, por isso nos alegramos. Eis o sacerdócio católico. Como disse São João Maria Vianney: “O sacerdote é um dom, uma graça, um presente do Céu que sai do coração de Jesus”. 

Mas o que para nós é fonte de alegria, para o sacerdote pode ser fonte de tentação: o padre pode ceder à tentação da soberba e, com isso, esquecer-se da graça. No Evangelho que lemos hoje, Nosso Senhor admoesta os padres: esse poder concedido a eles não deve ser motivo de envaidecimento, senão de humilhação. Ora, Jesus concedeu aos sacerdotes uma dádiva absolutamente imerecida — todos nós, leigos, padres, bispos e papas, merecíamos o Inferno, mas a graça nos chama para o Céu. 

Desse modo, nosso coração exulta de alegria porque sabemos que Deus concedeu a tão miseráveis homens o poder sacerdotal. Nosso dever é rezar por eles, porque vivem sob tentação permanente. No Evangelho, Jesus mesmo lhes diz que os envia “como ovelhas no meio de lobos” (Mt 10, 16).

Então, leigos e padres, ouçamos o convite de Nosso Senhor: “Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores” (Lc 10, 2). Aqui, Jesus nos ensina a rezar pelos padres, pedindo não só novas vocações sacerdotais, mas também forças aos sacerdotes que já cumprem a sua vocação. Pedimos a Deus que nossos padres não caiam na tentação da soberba e, assim, desgraçadamente se esqueçam da graça. Humilhados diante de Deus, os sacerdotes devem conservar seus corações alegres, pois Ele não nos dá o Inferno que merecemos, mas, sim, o Céu. Nossos nomes estão inscritos no Livro da Vida — eis a graça. 

Portanto, coragem! Jesus entregou o serviço sacerdotal aos bispos e aos padres para que, por meio deles, recebêssemos a graça. Diante disso, com o coração contrito, esses homens pedem a Deus: “Senhor, que o meu sacerdócio não seja para mim causa de juízo e de condenação, mas remédio para a minha alma” — é a oração que o padre sempre recita antes de comungar, em todas as missas. E isso também vale para todo o sacramento da Ordem. Todos nós devemos rezar pelos nossos padres — assim como os sacerdotes rezam uns pelos outros. 

Resumindo o que foi dito nesta homilia: o sacerdócio católico — episcopado e presbiterado — é um poder dado por Deus. Tal poder é maior nos bispos e menor nos padres, que são colaboradores dos bispos. Infelizmente, nossos irmãos protestantes não crêem nesse poder, descartando assim o sacerdócio ministerial. Mas nós, católicos que cremos no sacerdócio, exultamos em saber que Deus entregou tal poder aos homens. Ao pensar na realidade do sacerdócio nosso coração católico, de padres e leigos, cresce, expande-se de alegria, porque estamos diante de um milagre. Mas, para o padre que reflete sobre a sua condição, isso pode ser uma pequena armadilha, porque a soberba espreita à porta. A verdadeira alegria do católico é o fato do seu nome estar registrado no Céu.

Quão maravilhoso é o mistério de Deus: todos fomos chamados a, um dia, celebrar com o Senhor a felicidade eterna com os leigos e sacerdotes. Tudo isso porque o ministério vocacional nos ajudou a alcançar o Paraíso.

O que achou desse conteúdo?

9
57
Mais recentes
Mais antigos


PG
Paweł Gregorczyk
10 Jul 2025
(Editado)

O que é que as pessoas podem fazer se o seu episcopado (na Polónia) faz muito para destruir a confiança na Igreja. Não são transparentes, tentam agora mudar a agência de informação para a sua propaganda, encobrem escândalos. (nem todos, pois em algumas dioceses trabalham na ordem correta, mas todos os bispos, como episcopado polaco, tomam decisões terríveis). Só a oração é possível ou as pessoas podem fazer alguma coisa para que o Papa veja o seu comportamento?

Como grupo, parece que não têm nada a ver com a fé católica, os valores cristãos e o Evangelho. Se um padre estiver ligado ao episcopado, terá de abandonar a fé católica...

Responder
GG
Glaucia Gonçalves
6 Jul 2025

Sursum Corda 🙏🏼

1
Responder
ÁL
Álerson Lima
6 Jul 2025

Amém!

Responder
MM
Maria Machado
5 Jul 2025

Amém!🙏🏻

Responder
MB
Maria Baia
5 Jul 2025

Deus seja Louvado e Bendito para sempre! Amém! Aleluia!

“É Lindo ser católico.” O Padre nos ensinou e nos fez crer firmemente, nessa verdade da nossa Fé! E, hoje nessa Bela Homilia/Catequese, o nosso Padre, nos revela mais um pouco sobre a nossa Fé! É bom e salutar que aprendamos que o Padre é um Dom de Deus, para nos conduzir, pelo caminho da “ Porta estreita.” Ele recebeu de Deus o “poder“ de nos conduzir, na difícil e desafiadora estrada para o Céu! 

Bendito seja Deus por vosso santo Sacerdócio Amado Padre! Bendito seja Deus por todos os Sacerdotes! Bendito seja Deus para sempre! 🌹

Responder
WS
Walace Santos
5 Jul 2025

É uma alegria sabermos que os nossos nomes estão inscritos no céu! Obrigado, Senhor, pelo sacerdócio ministerial que me concedes sem mérito algum de minha parte!

Responder
MC
Marcos Coelho
5 Jul 2025

JESUS NÃO SE FIXOU APENAS NUMA CASTA SACERDOTAL E, NO ENVIO A MAIS DE 72 DISCÍPULOS, EXPRESSOU A SUA VONTADE DE CONSTITUIR A SUA IGREJA TOTALMENTE MISSIONÁRIA PARA EVANGELIZAÇÃO DO MUNDO INTEIRO. AO CONSTATAR QUE “A MESSE É GRANDE E OS TRABALHADORES SÃO POUCOS,” PARA IMPLANTAÇÃO DO SEU REINO PELO SACERDÓCIO ORDENADO E COMUM DOS FÍÉIS, JESUS CONVIDA-NOS À ORAÇÃO AO PAI SUPLICANDO MAIS VOLUNTÁRIOS.

Responder
RZ
Roberta Zanotto
5 Jul 2025

Rezarei este domingo na intenção do fortalecimento e santificação do sacerdócio! Que Deus o guarde Padre Paulo na sua missão evangelizadora! Muito aprendo com suas homilias, em cada pequena leitura cresce meu amor por Jesus e pela Igreja Católica! ♥️

Responder
Texto do episódio
Comentários dos alunos