Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17,26-37)
Naquele tempo, Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo: “Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’ Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: ‘Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha agredir-me!’” E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”
No Evangelho de hoje, nós vemos uma dessas passagens típicas de São Lucas, que não têm paralelo nos outros Evangelhos. É a parábola do juiz iníquo e da pobre viúva, que insistentemente vai pedindo a este juiz para que ele faça justiça. O próprio Evangelho nos diz que Jesus contou esta parábola para nos ensinar que é necessário rezar sem cessar. Portanto, aqui está o centro e aquilo que Ele verdadeiramente está tentando nos ensinar.
Para entendermos essa parábola, nós precisamos compreender que Jesus está colocando aqui um contraste extremo. Nós temos, de um lado, o juiz iníquo, que não teme a Deus e que não tem nenhum respeito pelos seres humanos; e, do outro lado, está Deus, Pai de bondade, amoroso e misericordioso, que quer que sejamos salvos, e, para isso, enviou o seu Filho ao mundo para morrer na Cruz por nós, e em seguida enviou o Espírito Santo para nos conceder a sua graça.
Eis aí o contraste extremo, com o qual Jesus ensina: “Se até esse juiz miserável cede à insistência da viúva, quanto mais não cederá o Pai bondoso, de infinita misericórdia, às nossas insistências”. Mas por que Deus, então, já não dá logo as coisas, ao invés de precisarmos ficar insistindo?
É porque, como nos ensina Santo Tomás de Aquino, quando Deus determinou que ia nos dar uma graça, Ele também determinou o meio através do qual iria nos concedê-la. Portanto, Deus, que quer nos dar a salvação, determinou que nos dará a salvação por meio da oração, que deve ser insistente, perseverante e humilde.
E esta oração é necessária. “Deus, que nos criou sem nós”, diz Santo Agostinho, “não quer nos salvar sem nós” e, portanto, precisamos pedir insistentemente, para que Ele mesmo vá transformando o nosso coração, de tal forma que possamos crescer na graça, crescer no amor e crescer cada vez mais.
Mas aí Jesus conclui este Evangelho riquíssimo, com essa lição extraordinária, com uma pergunta inquietante: “E o Filho do homem, quando voltar, irá encontrar fé sobre a terra?” Por quê? Porque, claro, existe a provação, existem as demoras de Deus. O Livro do Eclesiástico mesmo nos diz: “Filho, quando entrares para o serviço de Deus prepara-te para a provação, sofre as demoras de Deus” (Eclo 2, 1). Então, precisamos de perseverança e humildade.
Peça sempre e peça humildemente. Ele quer nos dar a graça de sermos mais santos; Ele quer nos dar a graça de seguirmos a sua Palavra, crescermos no amor, encontrarmos um amor ainda mais elevado nas moradas superiores, no caminho da santidade ainda aqui neste mundo. Mas, para isso, quer também nos purificar e por isso demora, faz com que passemos pela aridez e pelas provações. Mas tudo isso é bondade de Deus. Não desanime.
Será que o Filho do homem vai encontrar fé no seu coração, quando Ele finalmente estiver disposto a dar sua graça e a fazer com que você passe pela porta estreita? Essa é a pergunta. Persevere e mantenha-se firme na fé, humilde e perseverante, como aquela viuvinha.
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