Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 12, 44-50)
Naquele tempo, Jesus exclamou em alta voz: “Quem crê em mim não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. Se alguém ouvir as minhas palavras e não as observar, eu não o julgo, porque eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo. Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras já tem o seu juiz: a palavra que eu falei o julgará no último dia. Porque eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. Eu sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, o que eu digo, eu o digo conforme o Pai me falou”.
Diz o evangelista S. João, uns versículos antes dos que dão início à leitura de hoje, que foram à procura de Cristo alguns gentios, prosélitos do culto judaico, com o desejo de o conhecer, depois de tanto terem ouvido falar a seu respeito: Hii ergo accesserunt ad Philippum qui erat a Bethsaida Galilææ et rogabant eum dicentes: “Domine volumus Jesum videre”. Aproximaram-se estes do Apóstolo S. Felipe, oriundo de Betsaida da Galileia, rogando-lhe os levasse até Cristo: “Senhor, quiséramos ver Jesus” (Jo 12, 21). E ao saber Ele que o procuravam os que eram de fora, enquanto o rejeitavam os que eram de sua própria casa, começou a angustiar-se imensamente, vendo de antemão os sofrimentos por que teria de passar graças à infidelidade dos judeus: Venit hora ut clarificetur Filius hominis. “É chegada a hora”, diz Ele, “de ser glorificado do Filho do Homem” (Jo 12, 23). Veio Cristo como luz ao mundo: Ego lux in mundum veni (Jo 12, 46), para iluminar os seus que andavam nas trevas, mas os seus não o receberam (cf. Jo 1, 11); mas Ele, embora tenha recebido de Deus Pai todo o poder de julgar, tanto vivos como a mortos: Statuit diem in qua judicaturus est orbem in æquitate in viro in quo statuit fidem (At 17, 31), não veio como Juiz em sua primeira vinda, mas como Salvador, e é por isso que diz: Non enim veni ut judicem mundum sed ut salvificem mundum, “Eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo” (Jo 12, 47). Porque já profere contra si mesmo a própria sentença quem, antes de ser julgado por Cristo no Fim dos Tempos, já nestes tempos o rejeita, por nele não crer. Ego non judico eum, isto é, “Não o julgo eu”, pois habet qui judicet eum, “tem já quem o julgue”, a saber: sermo quem locutus sum, as palavras, a doutrina e a fé que lhe dei, mas que ele não quis aceitar. Desta fé e desta aceitação depende o sucesso ou o fracasso da vida de todos e cada um de nós: o sucesso, dos que pela fé se refugiam sob o Cristo salvador antes de o encontrarem como Juiz, e o fracasso, dos que, pela infidelidade, cruzam os braços à espera de que o Filho do Homem lhes ratifique no último dia a condenação a que eles mesmos se sentenciaram. Cabe a nós decidir: “Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras já tem o seu juiz”. Vejamos e consideremos muito bem que escolha hemos de fazer nesta vida, porque dela depende a remuneração que teremos na outra: ou a luz da glória, junto de Deus e seus santos no céu, ou as trevas do inferno, com o demônio e os precitos.
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