Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 5, 17-26)
Um dia Jesus estava ensinando. À sua volta estavam sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E a virtude do Senhor o levava a curar. Uns homens traziam um paralítico num leito e procuravam fazê-lo entrar para apresentá-lo. Mas, não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o desceram com o leito no meio da assembleia diante de Jesus. Vendo-lhes a fé, ele disse: “Homem, teus pecados estão perdoados”.
Os escribas e fariseus começaram a murmurar, dizendo: “Quem é este que assim blasfema? Quem pode perdoar os pecados senão Deus?” Conhecendo-lhes os pensamentos, Jesus respondeu, dizendo: “Por que murmurais em vossos corações? O que é mais fácil dizer: ‘teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘levanta-te e anda’? Pois, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder de perdoar pecados — disse ao paralítico — eu te digo: levanta-te, pega o leito e vai para casa”. Imediatamente, diante deles, ele se levantou, tomou o leito e foi para casa, louvando a Deus. Todos ficaram fora de si, glorificavam a Deus e cheios de temor diziam: “Hoje vimos coisas maravilhosas!”
Estamos no tempo do Advento, preparando a vinda do Salvador aos nossos corações, e o Evangelho que lemos hoje está presente nos três sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas.
Jesus, estando um dia em Cafarnaum e ensinando a multidão, recebeu um paralítico que, em um leito, foi descido do telhado da casa de Pedro por alguns homens. É evidente que muitas pessoas presentes tinham fé de que Jesus podia curar doenças físicas, mas Ele quis dar àquele paralítico algo muito mais importante: a salvação eterna, o perdão dos pecados. Então, Cristo dá a absolvição ao enfermo e faz com que ele caminhe, a fim de silenciar os escribas e os fariseus que o chamavam de blasfemo.
Ler este Evangelho no tempo do Advento é compreender profundamente o que celebramos no Natal: o mistério da Encarnação, ou seja, o fato de que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fez homem e que, realmente, Jesus tem consciência de que é Deus.
No entanto, teólogos liberais, sobretudo protestantes do final do século XIX, iniciaram uma ideologia insana de que Jesus não sabia de sua divindade, e essa ideia, infelizmente, entrou na Igreja Católica. Logo, na cabeça desses tolos, Deus se fez homem, mas Ele era tão humano, que não fazia a mínima ideia de quem era.
Ora, nós sabemos que isso não é a fé católica dos Concílios ecumênicos. Portanto, quando uma pessoa cai nesse tipo de ideologia, ela só mostra a consequência de não crer nos Concílios da Igreja. Os católicos, por exemplo, sabem perfeitamente como é possível Jesus ser Deus e homem em uma só Pessoa pelo Concílio de Calcedônia, o qual reconheceu, no Magistério do papa São Leão Magno, a realidade de que Jesus, sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, assumiu o que não tinha quando se fez homem — a natureza humana — sem perder aquilo que tinha — a natureza divina.
Logo, não se trata de que, durante o tempo em que esteve na terra, Jesus tivesse amnésia e não se lembrasse mais de que era Deus. Pelo contrário, o Evangelho de hoje nos mostra com toda a clareza, atestado pelos três Evangelhos Sinóticos, que Cristo se comportou divinamente e que tinha plena consciência de que era Deus e, portanto, podia perdoar os pecados. Para quem não acredita nisso, porém, Jesus é apenas um louco blasfemo, tendo os fariseus, dessa forma, razão.
Como é possível que um mero homem, que tem consciência de sua humanidade, diga a outra pessoa: “Teus pecados estão perdoados”? Todos sabem que somente Deus perdoa os pecados; por isso, se Jesus estava dando a absolvição, e sabemos que Ele é Deus que se fez homem, vemos que Ele age com plena consciência de sua divindade. Essa é a fé que nós professamos.
Preparando-nos para o Natal, deixemos também o nosso coração pronto para professar plenamente a fé de que Jesus, desde o ventre de Maria, pensava em nós, conforme diz o Papa Pio XII na sua Encíclica Mystici Corporis. Cristo nos amou e viveu toda a sua vida para nós, de tal forma que, quando aquele homem paralítico desceu diante dele dois mil anos atrás e Ele disse: “Teus pecados estão perdoados” (Lc 5, 20), nosso divino Salvador pensou em nós e no perdão que nos daria. Apliquemos isso, portanto, às nossas vidas e celebremos dignamente o Natal, preparando a casa para a visita de Nosso Senhor com a alma arrependida e livre dos pecados.
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