Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 28, 16-20)
Naquele tempo, os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. Então Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.
Meditação. — 1. No Brasil, celebramos hoje a solenidade da Ascensão do Senhor, recordando a verdade de fé segundo a qual Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, quarenta dias depois de ressuscitar, “subiu aos Céus, [e] está sentado à direita de Deus Pai”. Esse acontecimento, além de confirmar a natureza divina de Cristo, também nos mostra que, por meio dEle, a humanidade foi elevada à glória divina e a um estado de profunda união com Deus.
Antes, porém, de subir aos céus, Nosso Senhor, conforme vemos no Evangelho deste domingo, dirigiu-se aos Apóstolos para revelar o seu senhorio (v. 18) e, logo em seguida, confiar-lhes uma missão (v. 19-20).
Ao declarar: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”, Cristo nos mostra que habita sob luz inacessível “nos céus” (ἐν οὐρανῷ) e exerce seu poder “sobre a terra” (ἐπὶ τῆς γῆς). Obviamente, enquanto Verbo eterno de Deus, Ele não precisava receber a autoridade; mas a recebeu porque assumiu a natureza humana, em corpo e alma, a fim de redimi-la e elevá-la.
Com sua morte na Cruz, Jesus conquistou para nós a salvação, à qual precisamos aderir efetivamente através de nossas ações. Por isso, depois de recordar que toda autoridade lhe foi dada, Jesus ordena aos Apóstolos que socorram e assistam a humanidade na busca pela salvação: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!”
2. Nosso Senhor inaugura, assim, o tempo da Igreja, a qual — perdurando ao longo dos séculos até a sua vinda gloriosa para julgar os vivos e os mortos — tem a missão de assistir a humanidade nesta peregrinação terrena, administrando-lhe os sacramentos e ensinando-lhe aquilo que Cristo sempre ensinou.
Para compreender melhor como se caracteriza, ou como deveria ser, esse tempo da Igreja, é pertinente observarmos as palavras de Jesus no texto original grego. Na ordem dada aos Apóstolos: “Ide”, Ele utiliza o termo πορευθέντες, cujo sentido é de um “ir” permanente, constante. Ou seja, a Igreja precisa ir em missão perpetuamente, até o fim dos tempos. E o objetivo desse “Ide” não é outro senão “fazer discípulos” (μαθητεύσατε) a “todas as gentes” (ἔθνη”), isto é, converter em seguidores de Jesus Cristo aqueles que não o conhecem ou não o servem. Essas palavras são ocasião de um profundo exame de consciência acerca de nossa missão, sobretudo numa época em que o indiferentismo religioso cerceia o ímpeto missionário da Igreja e aqueles que dizem “evangelizar” não fazem mais que pregar um pacifismo negligente que anestesia as consciências.
Logo em seguida, Jesus deixa claro os meios pelos quais os Apóstolos devem fazer discípulos. O primeiro é “batizando” (βαπτίζοντες), isto é, dando acesso aos sacramentos. O segundo meio de fazer discípulos é “ensinando” (διδάσκοντες). Essa é a missão que Jesus deu à Igreja e à qual ela não pode renunciar. Mas não consiste em ensinar qualquer coisa e sim “a observar tudo o que vos ordenei”. Ou seja, a Igreja não ensina de forma autônoma o que bem entende (como muitos gostariam); sua autoridade subsiste enquanto ela estiver ensinando o que Jesus sempre ensinou, sem novidades ou concessões.
Nesse aspecto, é relevante destacar que o Magistério da Igreja, além de estabelecer e ensinar a doutrina que Jesus nos deixou, precisa levar as pessoas a compreender — pela luz natural da razão e a luz sobrenatural da fé — o que está por trás dessa doutrina, quais as implicações das verdades doutrinárias em suas vidas. Somente assim, as pessoas conseguirão verdadeiramente amar a Deus e unir-se a Ele.
Por fim, Jesus exorta os Apóstolos a enxergar que Ele está com eles. Diferentemente da tradução litúrgica do Brasil, no original grego, Nosso Senhor não afirma que estará, mas sim que está com eles: “Vede, eu estou convosco” (ἰδοὺ ἐγὼ μεθ’ ὑμῶν εἰμι); e essa presença perdurará “até o fim dos tempos” (ἕως τῆς συντελείας τοῦ αἰῶνος), ou seja, Ele está conosco nestes tempos da Igreja, apesar de todas as tribulações e adversidades.
Escutemos com fé essas últimas palavras de Nosso Senhor antes de subir aos céus, e busquemos uma união íntima com Ele através dos sacramentos e da doutrina de sempre. Se assim o fizermos, experimentaremos em nossas vidas a promessa de Cristo à sua santa Igreja, sobre a qual portæ inferi non prævalebunt, e conseguiremos nutrir o desejo constante de amar a Deus e nos encontrarmos face a face com Ele na eternidade.
Oração. — Senhor, Vós que elevastes a natureza humana à glória celeste e socorrestes a humanidade na sua peregrinação terrena, ajudai-nos a alcançar uma união íntima convosco participando dos sacramentos e observando os vossos ensinamentos. Amém.
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