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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 16, 13–19)

Naquele tempo, Jesus foi à região de Cesaréia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.

Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.


Neste domingo, celebramos a Solenidade de São Pedro e São Paulo. Por isso, vamos refletir um pouco a respeito da profissão de fé de São Pedro e do grande desenvolvimento espiritual desse Apóstolo, porque é disso que trata o Evangelho deste domingo. O Evangelho é a famosa profissão de fé de São Pedro (presente no capítulo 16 de São Mateus). Jesus pergunta aos Apóstolos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” São Pedro então diz: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Com essa resposta de Pedro, Jesus diz: “Pedro, tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Esse é o momento fundamental e extraordinário da profissão de fé de São Pedro.

Vamos olhar um pouco como São Pedro chegou a essa profissão de fé, e vamos também ver como era necessário ainda que São Pedro evoluísse e se aprofundasse nessa fé; porque, então, poderemos aplicar isso à nossa vida, a fim de fortalecer a nossa fé, aprofundá-la e crescer no caminho da santidade. Primeiro: quem era São Pedro? Bom, São Pedro era um galileu que tinha uma companhia de pesca; mas também era um homem observante, um homem bom que buscava as coisas de Deus.

Como é que nós sabemos que ele era um bom homem, religioso, praticante, obediente, servo de Deus? O primeiro indício que nós temos disso é o fato de que lá no evangelho de São João São, Pedro e seu irmão, Santo André, aparentemente estavam ouvindo as pregações de São João Batista. São João Batista diz: “Eis o Cordeiro de Deus”. Santo André ouve isso, segue Jesus e depois convida São Pedro. Então, primeira coisa: São Pedro estava procurando se aproximar da Palavra de Deus através da pregação de São João Batista. Mas não somente isso. Nos Atos dos Apóstolos, quando São Pedro tem uma visão de animais impuros que descem de uma espécie de lençol do céu, ele ouve uma voz que lhe diz para comer da carne daqueles animais, e São Pedro então responde, dizendo que ele nunca comeu aquele tipo de comida impura.

Isso tudo atesta que São Pedro era um judeu observante, era um homem religioso, que seguia a Lei de Deus, ou seja, procurava seguir a Lei de Moisés. Certamente a seguia com muito afinco e muita generosidade. E não somente seguia a Lei: ele estava realmente nessa espera do Messias e, por isso, foi ao rio Jordão ouvir a pregação de São João Batista. Com isso, vemos que o primeiro capítulo, digamos assim, da vida de São Pedro está no Antigo Testamento, ou seja, ele seguiu a Lei do Antigo Testamento. Mas São Pedro não somente observava os preceitos, mas de fato estava com o coração dilatado esperando Aquele que seria o Salvador.

Pois bem, o fato é que São Pedro se põe a seguir Jesus. Não sabemos os detalhes de como São Pedro fez uma mudança de vida tão extraordinária de “deixar tudo” para seguir Jesus. Mas os Evangelhos são claros e o próprio São Pedro alegremente atesta isso para Jesus: “Senhor, nós deixamos tudo para te seguir”. Mas aqui não estamos falando de uma pessoa qualquer. São Pedro era um homem virtuoso. Ele não somente observava a Lei, mas era generoso e foi capaz de deixar tudo: sobretudo a sua empresa e a sua família, para seguir Jesus e seguir generosamente.

Vem, então, a primeira dificuldade que São Pedro enfrenta, que serve de lição também para nós. É o fato que São Pedro era generoso, mas era como aquela semente, na parábola do semeador, que cai no caminho e diante da primeira provação já seca, ou seja, é a semente que cai no terreno pedregoso: ela brota rapidamente, mas não tem raiz; quando vem o Sol, ela logo seca.

Como nós sabemos disso? No capítulo 14 de São Mateus, nós temos aquele episódio em que Jesus aparece no meio do lago caminhando sobre as águas. Os discípulos ficam apavorados, dizendo que é um fantasma, e Jesus diz: “Coragem, sou eu. Não tenhais medo”. Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir sobre as águas até junto de ti”. São Pedro vai, começa a caminhar, mas a fé dele fraqueja, e ele logo afunda e, afundando, diz: “Senhor, salva-me”.

Por que citar esse episódio? Porque no Evangelho deste domingo, Jesus diz: “Pedro, tu és pedra”, mas dois capítulos antes, São Pedro não era pedra, ele era água. São Pedro caminha sobre as águas, mas logo afunda. Não tinha solidez nenhuma, e nós vemos a fragilidade daquela fé que vai engatinhando às apalpadelas. Ele sabe perfeitamente que Jesus é extraordinário, que há “algo” de divino em Jesus. Ele deixa tudo para seguir Jesus, cheio de amor; mas é um arroubo de quem ainda é muito fraco na fé. Por isso, a palavra de Jesus para São Pedro lá no capítulo 14 é a seguinte: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?"

Jesus pacientemente vai pegando este homem fraco na fé — virtuoso, bom, generoso, cheio de virtudes humanas, mas ainda fraco na fé —, e pacientemente o vai conduzindo pela mão, até que depois, em Cesaréia de Filipe, nós chegamos ao Evangelho deste domingo. Jesus pergunta: “Quem dizem que eu sou?” e São Pedro faz a sua profissão de fé. Ali aconteceu alguma coisa de extraordinário.

Aconteceu uma iluminação interior em São Pedro e nós sabemos disso perfeitamente porque é o próprio Jesus quem diz. Quando São Pedro diz: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. A reação de Jesus é uma declaração solene: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelaram isso, mas o meu Pai que está nos céus”. Houve ali uma mudança interior. Aquele Pedro que, dois capítulos antes, afundava na água agora já tem mais consistência, e Jesus vê que São Pedro está pronto. Nós também passamos por isso. Se você já teve uma experiência de fé, se você realmente já enxergou quem é Jesus, aqui é importante você saber: a nossa profissão de fé em Jesus é verdadeiramente a rocha firme, a pedra em cima da qual a Igreja é edificada.

Mas isto que Jesus diz: “Tu és pedra e sobre esta pedra construirei a minha Igreja”, é importante você entender que, a essa altura do campeonato, o que Jesus está fazendo é uma promessa. Ele não está dizendo assim: “Pedro, tu és pedra, e sobre esta fé eu edifico a minha Igreja aqui e agora, neste momento”. Não é isso. Ele diz “edificarei”, porque Pedro ainda não está pronto. Jesus chama os discípulos e começa a dizer que Ele deve ir para Jerusalém e que Ele deve morrer na cruz.

A declaração de fé de São Pedro é importante, é um passo importante, mas Jesus agora quer mostrar algo mais, uma coisa que São Pedro não tinha enxergado ainda: não somente que Ele é o Salvador, pois isso São Pedro enxergou: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”; o que São Pedro não tinha enxergado é a forma como Jesus iria nos salvar: por meio da Cruz.

Isso aqui, meus irmãos, é o que está, digamos assim, no centro daquilo que eu queria transmitir para vocês nesta reflexão. Nós somos bons católicos, temos fé católica, todo domingo nos levantamos na igreja e dizemos: “Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra”, e cremos de fato. Ou seja, temos uma fé sincera.

No entanto, essa fé sincera não é profunda, e é exatamente isso que explica o Evangelho deste domingo. A fé de São Pedro existe, não é ilusória, pois o próprio Jesus está dizendo: “Foi o Pai do céu que te revelou”. Mas, embora não seja ilusória, ele ainda não deixou essa experiência de fé criar raízes e se aprofundar no coração dele.

E por quê? Porque o homem velho ainda está muito vivo em São Pedro. Aqui está a tragédia, digamos assim, de São Pedro neste capítulo 16 de São Mateus. São Pedro é um homem dividido: ele já crê sinceramente, já segue Jesus com virtude, com sinceridade; mas é um seguimento ainda bastante superficial. É a semente que caiu nas pedras, mas não criou raiz.

Jesus tem paciência com São Pedro, repreende-o usando palavras duras: “Vai para trás de mim, Satanás!”. Jesus está dizendo para São Pedro: “Olhe, Pedro, você quer me seguir? Ótimo. Você sabe quem eu sou? Ótimo. Você tem fé verdadeira? Ótimo. Mas se você quer ser verdadeiramente cristão, se você quer ser parte da minha Igreja, entenda o seguinte: essa atitude de ser cristão, de ser membro da Igreja, e não abraçar a cruz é algo de satânico”.

Abraçar a fé em Jesus mas não querer abraçar a cruz é algo de satânico e tremendo. Porém, lamentavelmente, essa é a condição mais comum entre os católicos hoje em dia.

Obviamente, nós não precisamos querer sofrer. Ninguém quer sofrer, mas Nosso Senhor diz: “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. Porque esse é o método, esse é o meio, esse é o caminho. Meu irmão, se você continuar nessa atitude de quem quer ter fé, mas não quer renunciar a si mesmo para abraçar a cruz, vai dar errado.

Nesta festa gloriosa dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, precisamos entender que a casula do padre e as vestes litúrgicas deste domingo estão tingidas de sangue. A cor litúrgica da solenidade de São Pedro e São Paulo é vermelho, não por questão de moda, mas porque o coroamento da fé de São Pedro só se deu quando ele finalmente, configurando-se a Cristo cada vez mais, verdadeiramente entregou a sua vida como Cristo na Cruz. Isto é o que Deus quer de nós.

Você pode questionar: “Mas, padre, o senhor quer dizer que Deus quer que nós soframos?” Não, Deus quer que nós amemos. Pedro, no capítulo 16, tem fé, mas o que ele não tem é uma fé unida à caridade. O amor de Cristo, o amor dele por Jesus ainda é fraco.

Não é que ele não tenha amor nenhum, mas é que a fé precisa ir se aprofundando na caridade e no amor. Nós temos de olhar para a Cruz de Cristo. Jesus disse: “Pedro, eu vou morrer na Cruz por amor a vocês. Entenda isso”. Olhemos para a Cruz de Cristo e vejamos o seu amor por nós. “O amor de Cristo nos impele”, como diz São Paulo. Como não vamos amar de volta a quem nos amou assim?

Algo disso parece que São Pedro entendeu, porque, na Última Ceia, entendendo que ele precisava realmente seguir Jesus na Cruz, São Pedro faz uma declaração para Jesus. Ele diz: “Senhor, eu te seguirei até a morte, eu darei a vida por ti”. Ou seja, há uma declaração de amor mais maravilhosa do que essa? Ele diz: “mesmo que todos se escandalizem por causa de ti, eu jamais me escandalizarei! Jamais vou tropeçar, Jesus. Eu irei contigo até o fim”.

Mas Jesus, que vê o coração de Pedro, entende que aquele amor ainda é um amor que não está enraizado. O Espírito Santo ainda não tinha vindo, ainda não tinha acontecido o Pentecostes. Então, infelizmente, naquela fé que não se aprofundou, naquele amor que precisava ainda aumentar, São Pedro nega Jesus três vezes e sai correndo; depois, quando finalmente Jesus aparece para ele, ressuscitado (o evangelho de Lucas nos fala de uma aparição particular de Jesus a São Pedro), São Pedro é refeito, digamos assim, no seu amor por Cristo através do perdão.

A fórmula que está no evangelho de São Lucas diz assim: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão”, uma fórmula de fé antiquíssima da Igreja que se encontra logo depois da narrativa dos discípulos de Emaús: “Surrexit Dominus vere et apparuit Simoni”. Essa aparição de Jesus a Pedro foi para confirmar o amor dele. O próprio evangelho de São João fala daquela aparição à beira do mar da Galiléia em que Jesus pergunta a Pedro: “Pedro, tu me amas?”, e São Pedro por três vezes renova o seu amor por Cristo. Pois bem, meus irmãos, é isso o que Deus quer de nós hoje.

Mas para nós vivermos esse amor, precisamos nos colocar diante de Deus e dizer: “Senhor, sem o Espírito Santo que São Pedro recebeu em Pentecostes, nós seremos um fracasso. Como Pedro, nós vamos afundar na água. Como Pedro, nós vamos fugir da cruz e ser chamados de Satanás. Como Pedro, nós vamos fazer juras de amor, mas logo em seguida serão acessos de fúria, decepar a orelha do servo do Sumo Sacerdote, sair correndo e, num abismo de covardia, negar Jesus três vezes diante da primeira provação”.

Nós precisamos do Espírito Santo, nós precisamos pedir a Jesus perdão pela nossa fraqueza como Pedro fez e invocar o Espírito Santo para nos solidificar na fé, até que nós possamos entregar tudo profundamente.

Se nós olharmos para a vida de São Pedro, o primeiro episódio de que temos notícia é São Pedro deixando tudo para seguir Jesus. Mas esse “deixar tudo”, que foi sincero, não foi profundo, e a profundidade da sua entrega só vai acontecer finalmente quando ele morrer martirizado em Roma. Ali acontece o auge, o ápice. A maior graça que um ser humano pode receber nesta vida é a de se consumir completamente de amor por Jesus.

A tradição nos conta que São Pedro foi martirizado em Roma, provavelmente no circo de Nero. No centro do circo de Nero havia um obelisco, que hoje está no centro da Praça de São Pedro. São trinta metros de altura de um único pedaço de pedra, trezentas toneladas de um obelisco trazido do Egito! Aquele obelisco, meus queridos, que está lá no centro da Praça de São Pedro, viu o martírio do Príncipe dos Apóstolos.

Quando você alguma vez for a Roma ou vir uma foto da Praça de São Pedro, preste atenção naquele obelisco. Ele é a única “testemunha viva”, digamos assim, de que Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, seguindo Jesus e amando Jesus até o fim. É isto o que Deus quer de nós. Mas como você vai conseguir isso? É impossível, não é? Você precisa se dar conta destas duas coisas que esta minha reflexão sobre São Pedro está querendo lhe ensinar.

A nossa fé por Jesus é sincera, o nosso amor por Jesus é sincero e até generoso; mas precisamos da ajuda do Espírito Santo para levar essa fé até a consumação, para levar esse amor até a perfeição, de modo que a fé e o amor, unidos de forma profunda e indissolúvel dentro do nosso coração, irão nos levar a entregar a vida a Cristo e nos configurar a Ele cada vez mais.

Celebrar a Solenidade de São Pedro e de São Paulo é celebrar a obra do Espírito Santo no coração humano, uma fé que se inicia, um amor que inicia, mas que precisam ser consumados, desenvolvidos. Amar e amar cada vez mais, amar e amar generosamente. Peça o Espírito Santo. Seja um mendigo de Deus e peça o dom do Espírito Santo para crer cada vez mais e amar cada vez mais.

Mas, pense bem. Não adianta clamar pelo Espírito Santo e fugir da cruz. Isso  é algo de satânico. O Espírito Santo vem para nos dar aquele amor abrasado para que, alegres e contentes, abraçando a cruz do dia a dia, nós vivamos a vida como São Pedro viveu, configurados a Cristo até o fim.

* * * 

Jesus em Cesaréia de Filipe (cf. Mt 16,13-28; Mc 8,27-39; Lc 9,18-27). — Os sinóticos seguem uma lógica comum. Narrados os milagres e as pregações de Cristo, i.e., as provas de sua missão divina e o núcleo de seu magistério, Mateus, Marcos e Lucas convergem no mesmo ponto: a profissão de fé petrina. Trata-se, para muitos exegetas, do momento mais solene do Evangelho, do qual é como o centro e o coração. Três elementos principais compõem o episódio: (I) a confissão de Pedro, (II) a predição da paixão e morte do Senhor e (III) uma exortação à abnegação, dos quais veremos hoje apenas o primeiro.

I. A confissão de Pedro (cf. Mt 16,13-20; Mc 8,27ss; Lc 8,18ss).V. 13s. Como Jesus viesse a Cesaréia de Filipe (antigamente Pânias [1], hoje Banias), aos pés do monte Hermon, na Galauntide superior (a cerca de 45 km da margem setentrional do lago de Tiberíades), depois de passar sozinho a noite em oração, aproximaram-se dele os discípulos (Lucas), e, no caminho (Mateus), perguntou-lhes que opinião tinham as multidões sobre o Filho do homem. Os discípulos disseram o que ouviram do povo: para alguns, era João Batista, que voltara à vida, como já Herodes tinha pensado (cf. Mt 14,2); para outros, era Elias, o precursor do Messias (cf. Ml 4,5s); para outros, era Jeremias, muito venerado pelos judeus (cf. 2Mc 2,1-9; 15,13-16), ou então algum dos profetas.

V. 15s. Mas Jesus, que levantara a questão para pôr à prova a fé dos discípulos, continuou a perguntar: E vós quem dizeis que eu sou? Pedro, superando os outros tanto pelo fervor de sua índole como pelo ardor e a firmeza de sua fé, responde prontamente em nome de todos: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. Diz portanto duas coisas: (i) Tu és o Messias esperado pelos judeus e, acima de tudo, (ii) és de modo especial o Filho (ὁ υἱὸς) de Deus vivo, assim chamado por oposição aos ídolos, ‘deuses’ mortos, i.e., falsos, fabricados por mãos humanas (cf. Sl 113,4ss). — Em Marcos e Lucas a resposta é mais sucinta (Tu és o Cristo; o Cristo de Deus), por isso afirmaram alguns racionalistas e protestantes liberais, aos quais se juntam poucos católicos, que o texto de Mateus diria o mesmo que o de Marcos e Lucas, de forma que o Apóstolo teria reconhecido só a messianidade de Cristo, mas não sua divindade [2]. No entanto, devido ao elogio que Jesus faz a Pedro e à expressão o Filho de Deus vivo [3], que em lugar algum é usada como sinônimo de Messias, essa opinião é inadmissível. O contexto impede, com efeito, que as palavras de Pedro equivalham às ditas anteriormente pelos discípulos na barca (cf. Mt 14,33).

Ora, se Pedro reconheceu a filiação divina de Cristo, esta não pode ser senão natural, e não meramente adotiva, uma vez que o príncipe dos Apóstolos atribui ao Mestre algo que não compete a Elias, a Jeremias nem a nenhum dos profetas, os quais eram, não obstante, filhos de Deus por adoção. Estão de acordo com isso não poucos racionalistas modernos e de longe a maioria dos católicos; daí que os Santos Padres e os teólogos sempre tenham visto nesse trecho um argumento adequado para sustentar e confirmar a divindade de Nosso Senhor.

V. 17. Respondendo Jesus, disse-lhe: Bem-aventurado és, Simão Bar-Jona, porque não foi a carne e o sangue (σὰρξ καὶ αἷμα) que te revelaram etc. Cristo começa aprovando plenamente as palavras de Pedro e declarando-o bem-aventurado por ter-se aberto com docilidade e fé à revelação do Pai. — A locução tipicamente hebr. carne e sangue (וָדָם בָּשָֹר) designa um ente vivo por referência a um duplo elemento, um passivo (carne) e outro ativo (sangue). Trata-se de uma circunlocução para referir-se ao homem do ponto de vista de sua fragilidade, sobretudo quando é contraposto a Deus, como aqui (cf., e.g., 1Cor 15,50; Gl 1,16; Ef 6,12); logo, não foi a natureza, a força do intelecto ou dos afetos humanos nem homem algum (cf. Gl 1,16) que te revelaram isto, i.e., que te inspiraram estas palavras a meu respeito, mas foi o meu Pai, que está nos céus, quem te manifestou este mistério por uma luz sobrenatural.

N.B. — São chamados na Escritura felizes ou bem-aventurados (gr. μακάριοι, lt. beati) os que recebem algum benefício especial de Deus ou uma graça de todo indevida, especialmente se tem relação com a vida eterna. — Note-se o paralelismo entre o macarismo em que Jesus prorrompe e o de Isabel, movida pelo Espírito Santo, quando da visita da Virgem deípara: Bem-aventurado és, Simão e Bem-aventurada és tu pelo mesmo motivo fundamental, a saber: a fé sobrenatural de um e de outra (cf. Lc 1,45).

V. 18a. E eu, de minha parte, digo-te que tu és Pedro etc. Em quatro vv. Jesus confere a Pedro: 1.º um novo nome; 2.º o ser o fundamento da Igreja; 3.º as chaves do reino; 4.º e plena potestade de governo.

1.º Tu és Pedro. O nome que já antes prometera a Simão, filho de Jonas (cf. Jo 1,42), Jesus o confirma agora e explica: doravante, Simão será chamado Pedro. Petrus é a transliteração em lt. do nome gr. Πέτρος, versão literal, por sua vez, do aram. Kêphâ (כּיפָא) = rocha, o qual, sem dúvida, deve ter sido usado por Cristo: Tu és Kêphâ [4]. A razão desta mudança de nome funda-se no cargo confiado de agora em diante a Pedro.

2.º E sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (μου τὴν ἐκκλησίαν, com art. def., i.e., a minha única Igreja). — Para captar a força da expressão, atente-se a que o Senhor valeu-se aqui de certo jogo de palavras, que nem em lt. nem em gr. pode exprimir-se adequadamente: Tu és Kêphâ, e sobre este Kêphâ edificarei etc. [5], o que é o mesmo que dizer: e sobre ti, a quem chamei pedra, ou: e sobre esta pedra que tu és, edificarei etc. Noutras palavras: Hei de constituir-te fundamento do edifício espiritual que pretendo erigir. Cristo, por conseguinte, é como um arquiteto que planeja a construção de uma casa, e Simão, filho de Jonas, será a pedra sobre a qual todo o edifício estará apoiado. Eis por que lhe convém o nome Kêphâ. — Conclusão teológica: Ora, se o fundamento está para o edifício, a saber: como princípio de sustentação, estabilidade e continuidade (cf. Mt 7,24s; Lc 6,48), assim como Pedro está para a Igreja, e se o princípio de sustentação etc. na sociedade humana (com a qual a Igreja, em sua constituição, guarda estreita analogia, assim como a ordem sobrenatural é análoga à natural) não é senão o exercício da legítima autoridade, então é evidente que essas palavras outorgam a Pedro o principado da Igreja, i.e., um cargo de chefia e governo [6].

N.B. — (a) A metáfora edificar a Igreja é de sentido óbvio e foi utilizada mais tarde por São Paulo (cf. 1Cor 3,9-17; Ef 2,19-22 etc.). Parece derivar das passagens do AT em que o povo israelita é chamado casa de Israel, casa de Deus etc. — (b) A palavra ecclesia (ἐκκλησία), assim como o sinônimo synagoga (ambas equivalentes ao hebr. qāhāl), já no AT é utilizada para significar o conjunto, a assembleia, a congregação etc. dos fiéis judeus (cf. Nm 16,3; 20,4; Dt 23,2s; Sl 21,23.26; 34,18 etc.). — (c) No entanto, o v. 19 deixará claro que, a partir de agora, a ecclesia não se limita mais à carne e ao sangue judeu, i.e., ao povo de Israel, mas estende-se à terra inteira, que passa a estar unida, como um só corpo ou família, aos céus, de onde Deus confirma tudo o que, no exercício de sua função, decidir a suprema autoridade eclesiástica.

Observação: A Pedro compete um duplo primado: (i) um de jurisdição, sobre toda a Igreja, fundado em: (ii) um de fé divina, por ter sido ele o primeiro dos Apóstolos a professar a divindade de Jesus Cristo. Daí o listarem os evangelistas como o primeiro entre os Apóstolos: πρῶτος Σίμων ὁ λεγόμενος Πέτρος, i.e., o primeiro, Simão, chamado Pedro (Mt 10,2). Primeiro em honra e poder, por ter sido a primeira pedra e o sujeito do primeiro ato de fé a partir do qual o Senhor edificaria o novo Israel: Sobre esta fé etc. Donde se segue que o vínculo primeiro e fundamental que nos faz membros da Igreja é a fé, mas não qualquer uma: é a mesma fé, católica e apostólica, professada por Pedro, graças à iluminação interior do Pai celeste.

V. 18b. É uma consequência das palavras anteriores: Pedro será o fundamento da Igreja, razão de sua firmíssima estabilidade, e por isso as portas do inferno não prevalecerão (κατισχύσουσιν) contra ela (καὶ πύλαι ᾅδου οὐ κατισχύσουσιν αὐτῆς). — Porta é uma metonímia típica do hebr. para significar cidade (cf. Gn 22,17; 24,60; Dt 5,14; Sl 86,2). — Inferno (Ἅδης) corresponde aqui ao vocábulo sheol e significa domicílio dos mortos, i.e., o lugar onde ficavam detidas as almas dos defuntos que ainda não gozavam a visão de Deus; mas, na época de Cristo, quando a diferente sorte dos bons e dos maus já fora mais bem revelada, servia para designar também o cárcere em que os condenados são punidos com eternos suplícios (cf. Lc 8,31; 16,22ss; Mt 25,41; Ap 1,18; 20,13 etc.), o qual é representado várias vezes como um poder ou reino contrário a Deus (cf. 1Pd 5,8; Ap 9,1; 12,7 etc.). — Disto decorrem duas interpretações possíveis: (i) portas do inferno = o poder da morte (i.e., a própria morte, cf. Is 38,10; Sl 9,15; 106,18; 38,17), embora seja mais forte do que tudo neste mundo, não será todavia mais forte do que a Igreja (noutras palavras, a Igreja é imortal e jamais perecerá); (ii) portas do inferno = os poderes diabólicos ou das trevas (cf. Lc 22,53), que levam as almas para o inferno, nunca triunfarão contra a Igreja nem farão cessar sua obra salvífica, continuação da mesma obra de Cristo [7]. — É preferível a segunda interpretação por conta do verbo κατισχύω (= sobrepujar, impor-se a, sujeitar etc.), que supõe tentativas hostis positivas de destruir a Igreja.

V. 19. 3.º Explica com outra imagem o ofício de Pedro: E eu te darei as chaves do reino dos céus. Ora, aquele que detém as chaves da casa ou da cidade, segundo o uso bíblico, não é simples porteiro, mas ecônomo (οἰκονόμος) ou administrador da casa, i.e., o responsável por dispensar à família do senhor ou aos súditos do rei o que lhes for necessário (cf. Is 22,22; Ap 3,7ss etc.) [8]. Sem metáfora, o sentido é: Eu te darei a suprema administração do reino. Pedro será na Igreja [9] o ecônomo ou o ministro régio, por quem tudo será dirigido.

4.º Até onde porém se estende este poder administrativo, declara-se com mais uma imagem: Tudo o que ligares na terra etc., locução que, embora em seu uso rabínico não signifique nada mais que declarar algo lícito ou ilícito, não se restringe aqui ao papel de um jurisconsulto ou de um rabino, senão que, em razão do contexto, se aproxima mais do sentido grego das palavras, i.e., significa a potestade legislativa suprema (a ninguém subordinada) e verdadeiramente universal (ὃ ἐάν = tudo o que, tudo quanto, qualquer coisa etc.). Ora, tal poder não seria universal (sobre coisas e sobre homens) a menos que incluísse o poder não só disciplinar e doutrinal, mas inclusive o de perdoar pecados. Logo, Cristo promete que tudo o que Pedro, enquanto administrador do reino dos céus, decretar ou decidir, estará confirmado aos olhos de Deus. Noutras palavras, Cristo confere-lhe um verdadeiro poder legislativo na Igreja e, por conseguinte, a autoridade de obrigar por força ao cumprimento de suas leis.

O Senhor proclama, pois, e ilustra o primado de Pedro e seus sucessores no pontificado com uma tríplice metáfora ou símbolo (da pedra, das chaves e da faculdade de ligar e desligar). Essa doutrina, embora claramente atestada na Escritura, é todavia impugnada pelos cismáticos orientais. Mas consta historicamente que também os bizantinos, até a época do cisma de Fócio, i.e., durante os oito primeiros sécs. da história eclesiástica, criam no primado jurisdicional dos pontífices romanos enquanto sucessores de Pedro. São Teodoro Estudita, e.g., em carta ao papa Leão III (cf. MG 99,1155), saúda-o como sucessor do príncipe dos Apóstolos (διάδοχος τοῦ τῶν ἀποστόλων κορυφαίου), e afirma em outra epístola (cf. ad Pasc.: MG 99,1017) que o romano pontífice é o pastor supremo da Igreja debaixo do céu (ἀρχιποίμην τῆς ὑπ’ οὐρανὸν Ἐκκλεσίας). Ninguém menos que São Metódio, apóstolo dos eslavos, escreve em seu Νομοκάνων contra a teoria da translação do primado da antiga para a ‘nova Roma’ (i.e., Constantinopla): ‘Não é verdade que foram os antigos Padres que atribuíram à velha Roma um primado para que fosse cabeça do império, senão que este primado lhe vem do alto, pela graça divina. Pois foi por causa do grau de sua fé que o príncipe dos Apóstolos, Pedro, mereceu ouvir estas palavras da boca mesma de Nosso Senhor Jesus Cristo: Pedro, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas. Eis por que obteve entre os prelados o principal lugar e a primeira sé’ (cf. M. Jugie, Theologia dogmatica…, vol. 1, Paris, 1926, p. 111s).

V. 20. Após a confissão de Pedro, Jesus ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo, i.e., o Filho de Deus vivo, como Pedro acabara de professar abertamente, já que os Apóstolos não tinham ainda recebido a luz do Espírito Santo para anunciar esse dogma, e porque, como a pregação apostólica só deveria começar depois da paixão e morte de Cristo, acabariam, mais do que propagar a fé, por causar escândalo e pôr-se a si mesmos em perigo, caso evangelizassem antes da hora. É o que parece dar a entender Lucas (9,21s): Ordenou-lhes energicamente que não o dissessem (i.e., o que Pedro acabara de confessar) a ninguém, e diz a causa: Ele acrescentou: É neces­sário que o Filho de homem padeça muitas coisas etc.

Notas

  1. Assim se chamava o lugar por causa do deus Pã, a quem era especialmente dedicado.
  2. Que em Marcos e Lucas não se leiam as palavras ‘o Filho do Deus vivo’ nada prova contra a autenticidade de Mt 16,16ss nem contra o sentido cristológico da confissão de Pedro em Macos e Lucas. (a) Com efeito, é sabido que nenhum dos evangelistas pretendia narrar todos os ditos e feitos de Cristo, e que há muitas coisas registradas apenas por Mateus. — (b) Tampouco faltam razões para que o segundo e o terceiro evangelhos omitam essas palavras: (α) por um lado, é consentâneo que Pedro, em sua pregação, tenha calado por humildade um fato que o enobrecia, e como Marcos quis refletir fielmente a catequese dele, não é de estranhar que em seu evangelho relate o episódio em termos gerais; (β) por outro lado, visto que o terceiro evangelho parece depender em muitas coisas da narração de Marcos, é natural que Lucas tenha recebido o diálogo entre Cristo e Pedro de forma ‘incompleta’, i.e., abreviada; (γ) por último, ainda que se admita a hipótese de uma interpolação no texto de Mateus, ainda ficaria sem explicação: (i) por que ela ocorreu apenas no primeiro evangelho, e não nos demais, (ii) como os cristãos, durantes sécs., toleraram sem qualquer oposição que a igreja romana adulterasse o Texto sagrado em matéria tão importante, a saber: a própria estrutura hierárquico-monárquica da Igreja, (iii) e o motivo de Simão ter recebido o nome de Pedro, atestado tanto em Marcos (cf. 3,6) como em Lucas (cf. 6,14).
  3. São João Crisóstomo (MG 58,533): ‘Se Pedro não o [Jesus] tivesse verdadeiramente confessado como gerado pelo próprio Pai, não seria isto obra de uma revelação; se o considerasse um dos muitos [profetas, filhos de Deus por adoção], não seria isto digno de bem-aventurança. Com efeito, já antes disseram os que estavam na barca depois da tempestades: Este é verdadeiramente o Filho de Deus (Mt 14,33), mas nem por isso foram chamados bem-aventurados, embora tenham dito a verdade. Logo, não confessaram o Filho como Pedro o confessou’.
  4. Alguns autores (e.g., *Strack–Billerbeck I, p. 731s) opinam que Jesus, falando em aram., teria usado o nome Petros. No entanto, já nas primeiras comunidades cristãs era comum usar o nome Cephas para referir-se ao príncipe dos Apóstolos (cf. 1Cor 1,12; 2,22; 9,5; 15,5; Gl 1,18; 2,9; 11,14).
  5. Segundo Burney, Jesus teria dito em aram: ‘We amarana lak: de ’att hû kêphâ, we ‘al hāden kêphâ ’ebn’e liknishti’, o que equivale a: ‘Eu te digo: tu és rocha, e sobre esta rocha edificarei a minha Igreja’.
  6. Houve entre os Padres quem interpretasse essas palavras de Cristo aplicando-as ora aos Apóstolos e bispos em geral, ora à fé (mas não à pessoa) de Pedro, ora ao próprio Cristo. Resp.: Já São Roberto Belarmino fez notar que essa interpretação é proposta apenas em exposições morais do Evangelho: quando expõem ex professo, i.e., dogmaticamente essa passagem, todos dizem que se trata da pessoa de Pedro. — Os protestantes em geral sustentam que as palavras não se referem a Pedro, mas a Cristo, que se teria indicado a si mesmo (‘sobre esta pedra’) por algum gesto ou sinal; para outros, referem-se não à pessoa mas à de Pedro, por isso se aplicariam tanto a ele quanto aos outros Apóstolos, em cujo nome se pronunciou. Resp.: Embora seja verossímil que Pedro tenha querido responder por si e pelos outros, Cristo se dirige única e expressamente a ele, apesar de ter interrogado a todos: Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas etc. Jesus fala da fé de Pedro como da causa pela qual (e não como do sujeito ao qual) concederá a graça do pontificado. Além disso, é perverter o texto com um absurdo e contrassenso dizer que algo é ‘construído’ sobre a qualidade de outrem. Conquanto a fé seja, sim, por certo ângulo, o fundamento da Igreja, as palavras de Cristo neste contexto designam in recto o fundamento visível dela (ἐπὶ ταύτῃ τῇ πέτρᾳ), e só in obliquo o seu fundamento espiritual. — Tampouco é problema para o dogma católico que em Marcos e Lucas não se leiam as palavras da instituição petrina: E sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, pelas mesmas razões apresentadas acima, na nota 2.
  7. M. J. Lagrange, Évangile selon saint Matthieu. 2.ª ed., Paris, 1923, p. 326: ‘É pois a luta de um edifício, que é o império do mal, contra a Igreja, que é a casa de Cristo. Satã não é mencionado nem designado diretamente, nem mesmo os poderes infernais. Mas se as portas são atuantes, é porque representam a cidade [do mal, de Satã, dos poderes infernais]’.
  8. As chaves não são aqui símbolo da ciência (como em alguns lugares do Texto sagrado, cf. Lc 11,51; 24,32), por isso não se promete a Pedro uma autoridade meramente doutrinal. Com efeito, ‘a função de mordomo ou superintendente descrita por Isaías era o mais alto cargo da corte: o mordomo tem a chave do palácio, cabe-lhe permitir ou proibir a entrada, e tudo na casa real está sujeito à sua administração’ (Médibielle, p. 579).
  9. O ‘reino dos céus’ deste inciso equivale à ‘Igreja’ do inciso anterior (cf. ‘tudo o que ligares sobre a terra…’).
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