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O Purgatório e a Santidade

Nos tempos atuais não faltam os teólogos da moda que negam a existência do purgatório. “Foi uma invenção medieval”, dizem. Mas não é difícil perceber que, ao negar explicitamente o purgatório, tais teólogos negam também a existência da verdadeira santidade ainda aqui neste mundo.

Texto do episódio
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A doutrina do Purgatório está intimamente ligada à Engenharia da Santidade. Malgrado a negação dos protestantes, o testemunho da Tradição da Igreja não só dá provas inconcussas da existência do Purgatório como mostra a sua importância fundamental para a perfeição cristã. Graças ao Purgatório, as almas que não completaram a sua devida purificação aqui na terra podem ainda entrar no Céu, limpas de toda mancha do pecado,  “aliviadas pelos sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do altar” (Concílio de Trento, s. XXV, DH 1820). Por isso o Concílio de Trento ordenou a todos os bispos a pregação sobre tais assuntos, na esperança de que “os fiéis mantenham e creiam a sã doutrina sobre o purgatório, aliás transmitida pelos santos Padres e pelos Sagrados Concílios” (Concílio de Trento, s. XXV, DH 1820).

Para compreender a doutrina do Purgatório, deve-se primeiro saber que a justificação não é apenas um perdão de Deus para nossas faltas, pelo que Ele nos cobre com um manto e finge não enxergar nossas misérias. Deus nos quer santos de verdade. Neste sentido, as pessoas que se mostram abertas à sua graça vão, aos poucos, passando por uma verdadeira e íntima transformação ao ponto de, um dia, poderem dizer com São Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). Na vida dos santos, percebemos essa transformação pela manifestação das virtudes heroicas, sobretudo a caridade. Os santos são capazes de amar o próximo de uma forma evidentemente sobrenatural. E, ao morrerem, eles estão aptos a comparecer diante da presença da perfeição infinita que é Deus, pois morrem na Sua plena amizade sobrenatural.

Bem diferente é a sorte dos mundanos. Se morrem em pecado mortal, a condenação é iminente. Todavia, há aqueles que, embora estejam formalmente na graça santificante, não sanaram ainda as suas penas temporais em reparação à vida torta que levaram. Em outras palavras, essas pessoas têm a alma imperfeita e, por isso, não podem comparecer imediatamente na Casa Celestial. Elas precisam de uma purificação. Daí a grande esperança do Purgatório, pois ele nos concede a entrada para o Céu, com a limpeza que não conseguimos completar no curso de nossas vidas terrestres. Como afirma o Papa Bento XVI, “para alcançar a salvação, é preciso atravessar pessoalmente o ‘fogo’ para se tornar definitivamente capaz de Deus e poder sentar-se à mesa do banquete nupcial eterno” (Spe Salvi, n. 46).

É uma verdadeira pena que muitos institutos de teologia já não ensinem a doutrina do Purgatório, como se esta fosse apenas uma invenção medieval. Essa atitude apenas repete o erro de Lutero. Para resolver um dilema próprio, o fundador do protestantismo se levantou contra as indulgências, apregoando, a 31 de outubro de 1517, as suas 95 teses na porta da capela de Wittenberg. Na sequência, Lutero passou a golpear as boas obras, o Purgatório e, finalmente, a santidade cristã.

Acontece que o erro de Lutero tem consequências funestas para a alma cristã, pois a sua doutrina desestimula a busca pela santidade, a devida purificação de nossos pecados que deveria acontecer aqui, e não no Purgatório. Os bons teólogos ensinam que a alma humana pode purificar-se pela graça ainda neste tempo. Trata-se da entrada na via purgativa, isto é, o esforço que a alma faz, movida pelo Espírito Santo, para viver na amizade com Deus, evitando toda espécie de pecado mortal e procurando exercitar as virtudes cristãs, especialmente a caridade. Nessa busca, a alma começa a adquirir força inclusive para combater os pecados veniais e, em algum momento, Deus a ilumina, a fim de que experimente um Amor do qual não é capaz, um Amor totalmente sobrenatural. Essa é a chamada via iluminativa. Finalmente, as almas mais generosas passam por uma tal transformação interior que são levadas por Deus para a via unitiva, pelo que essas almas se tornam esposas do Cristo.

A maior parte das pessoas, infelizmente, não consegue completar essa transformação aqui na terra. O Purgatório é, neste sentido, a última expiação pela qual precisam passar antes do encontro definitivo com o Senhor. E as indulgências, assim como a Santa Missa, servem para diminuir as penas purgativas e acelerar a entrada das almas do fiéis defuntos no Céu. Daí a importância de oferecermos Missas e lucrarmos indulgências pelas almas do Purgatório. Trata-se de um dever de caridade pelos nossos irmãos que contam com a nossa oração, com a nossa intercessão. De fato, o Purgatório não é um estágio entre o Céu e o Inferno. As pessoas que estão no Purgatório já estão salvas. Elas apenas precisam passar por essa última purificação antes de estarem com Deus. E se nós as auxiliarmos com nossas orações e sacrifícios, elas poderão viver esse encontro ainda mais rápido.

A oração pelos fiéis defuntos está na Tradição da Igreja desde a era apostólica. E ainda que a palavra purgatório tenha sido definida apenas na Idade Média, isso não indica que o estágio ao qual chamamos Purgatório tenha surgido só nessa época, pois a existência de uma coisa não depende do nome que ela carrega. Além disso, o fato de a Igreja sempre ter rezado pelas almas dos fiéis defuntos denota a sua crença numa realidade purgativa, porque ela não poderia rezar nem pelas almas condenadas, dado que é inútil, nem pelas salvas, que já estão no Céu e não precisam da nossa intercessão. Portanto, conclui Santo Tomás de Aquino, a Igreja reza pelas almas do Purgatório.

Em suma, a Igreja nos exorta a buscar a santidade já aqui neste tempo, recorrendo a todos os meios disponíveis (oração, penitência e sacramentos), ao mesmo tempo que oferecemos nossa intercessão pelas almas do Purgatório, a fim de que elas tenham logo o encontro face a face com Deus.

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