Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 20,19-23)
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”.
Neste domingo, estamos muito contentes de celebrar a solenidade de Pentecostes. Jesus ressuscitou na Páscoa; cinquenta dias depois, de lá do Céu, envia o Espírito Santo sobre os Apóstolos e a Virgem Maria reunidos no Cenáculo. Ali a Igreja inicia sua vida pública: abrem-se as portas que antes estavam fechadas por medo dos judeus, e a Igreja começa a realizar a sua missão ad gentes, para todos os povos. Quando São Pedro, na manhã de Pentecostes, às nove horas, começa a pregar o Evangelho, estavam presentes partos, medos, elamitas etc., povos chamados por Deus a fazer parte do Corpo místico de Cristo.
Deus feito homem, Jesus, quer que estejamos unidos a Ele como membros de seu Corpo. Ora, como fazer um corpo estar unido? É necessário ter alma. Se há alma, o corpo permanece unido; se se tira a alma, o corpo se esfarela e desfaz. Pois bem, a alma da Igreja é o Espírito Santo, derramado da Cabeça, Cristo, para os membros, que somos nós. Eis a realização da profecia do Salmo 133,2: “Como é bom os irmãos habitarem juntos. É como um azeite precioso derramado na cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Aarão, que desce sobre a orla do seu vestido”. A unção da cabeça é o Espírito Santo, que desce qual óleo sagrado até os membros para nos manter unidos num só Corpo, que é a Igreja. — Essa é a beleza do mistério que, como num vôo de águia, podemos vislumbrar na solenidade de Pentecostes.
Mas para tirarmos daí algum fruto para a vida, precisamos meditar sobre o mistério. No relato do que aconteceu na manhã de Pentecostes, por volta das nove horas da manhã, o Livro dos Atos dos Apóstolos diz o seguinte: “De repente, veio do Céu um barulho como se fosse uma forte ventania que encheu a casa onde eles se encontravam”. O “barulho de forte” ventania faz lembrar a passagem do evangelho de São João em que Jesus diz a Nicodemos: “O Espírito sopra onde quer”. Para nós, a palavra “espírito” não tem nada a ver com vento; mas para gregos e judeus, sim. Em hebraico, ru’ach quer dizer “vento”, mas também “espírito”, ou seja, é uma realidade material — o vento físico — adotada para significar por analogia uma coisa imaterial — o espírito. Em grego, πνεῦμα é “vento”, mas também “espírito”, daí que em português haja palavras como “pneumologista”, isto é, médico especializado em pulmão.
Pois bem, o vento aqui é o primeiro sinal do Espírito Santo. Jesus mesmo deu a interpretação disso quando disse: “Espírito que sopra onde quer”. É a liberdade do Espírito Santo que age, que vem, que se derrama. É a grandeza de Deus, que não se deixa limitar por vínculos de sangue, por exemplo. Ou seja: de agora em diante, o povo de Deus não são apenas os judeus, descendentes de Abraão, mas todos os gentios que abraçamos a fé, embora não pertencemos por sangue à linhagem de Israel.
O relato continua: “Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava”. O Espírito Santo vem como línguas de fogo. Que quer dizer esse símbolo? Antes de tudo, deixemos as coisas claras: estamos falando aqui de um evento histórico — apareceram línguas de fogo —, mas com um profundo sentido simbólico. Infelizmente, há quem diga por aí: “Não foi assim que não aconteceu. Isso é um relato literário. Os Apóstolos, depois da morte de Jesus, forjaram uma ficção como mito fundador Igreja Católica”... Nada disso. Trata-se de um evento histórico. Aconteceu de fato.
Como sabemos disso? Pelo que aconteceu em miniatura também a um santo. São Filipe Néri, no dia 31 de maio de 1544, vigília de Pentecostes, estava nas catacumbas de São Sebastião, em Roma. Era leigo, tinha só 29 anos, e ali estava a fazer suas orações. De repente, um fenômeno extraordinário arrebatou São Filipe Néri para as Sétimas Moradas. Ele viu uma bola de fogo entrar-lhe pela boca, fazendo-o sentir o amor de Deus com tal intensidade, que seu coração agigantou-se a ponto de quebrar-lhe duas costelas. É fato comprovado historicamente.
Com efeito, inúmeras testemunhas referem-se a uma deformidade no tórax de São Filipe devido às costelas quebradas e ao tamanho anormal do coração. Sabe-se, além disso, que quando o Papa mandou os padres usarem sobrepeliz para ouvir confissões, São Filipe Néri pediu-lhe dispensa, alegando o calor que sentia no peito. O santo também usava batina, mas desabotoada, por conta do calor de seu coração desproporcional. Foi por isso que ele começou inclusive a cortar a casula. (Como se sabe, a casula litúrgica foi por muito tempo um verdadeiro “casulo”, envolvendo o corpo inteiro do padre.) Daí surgiu, aliás, o protótipo do que mais tarde se tornaria a casula romana.
Quem se sentava perto de São Filipe Néri sentia o banco tremer ao ritmo das batidas de seu coração. Às vezes, o santo aproximava do próprio peito a cabeça do penitente, que saía do confessionário livre de tentações, o que podia durar meses. Um dia, enfim, já perto da morte, o próprio São Filipe confidenciou a um amigo o que lhe tinha acontecido naquela manhã nas catacumbas de São Sebastião. Quando o santo morreu, procedeu-se à autópsia do corpo, e um dos melhores cirurgiões de Roma na época atestou que havia duas costelas quebradas e, no coração, uma cicatriz de cauterização. Isso é fato, não piedosa “mitologia”.
Ora, se isso aconteceu a São Filipe Néri, o que não terá acontecido aos Apóstolos em Pentecostes? Também aqui estamos na presença de um fato histórico. O Espírito Santo veio de fato e, ao vir, produziu nos Onze efeitos semelhantes aos do fogo. Que faz o fogo? Ilumina e aquece. Logo, o fogo que os Apóstolos receberam em Pentecostes também ilumina e aquece, à sua maneira. O primeiro efeito da vinda do Espírito Santo é a iluminação da inteligência. Se o Espírito é luz da verdade, é papel dele arrancar o homem da ignorância em que o tem escravizado o diabo. O demônio reina hoje por meio da mentira, como reinou outrora, ao enganar nossos primeiros pais: “Comei do fruto, e sereis como deuses”. Porque pai de mentira, por isso homicida desde o princípio.
Nosso Senhor Jesus Cristo, mestre infalível da verdade, disse na Última Ceia: “Ainda tenho muita coisa para vos dizer, mas ainda não sois capazes de compreender. Mas virá o Espírito Santo…”. E virá para quê, afinal? Para ensinar a verdade completa. Assim o pediu Jesus ao Pai: “Pai, santifica-os na verdade”. Qual é, então, o primeiro passo rumo à santidade? Sair da ignorância, o que se faz pedindo a Deus as luzes do Espírito Santo e estudando, isto é, abrindo-se à iluminação da inteligência.
Tomemos outro santo como exemplo: Agostinho. Geralmente, as pessoas se convertem por reconhecerem a miséria moral em que vivem. De repente, a desgraça as faz cair em si, como o filho pródigo, que se dispuseram a comer até comida de porco; então se acende a luz do Espírito Santo, e a alma reconhece a necessidade de mudança. A conversão de Santo Agostinho não foi assim, ao menos não totalmente. A conversão de Agostinho teve muito de intelectual. Orador trambiqueiro, habilidoso na arte de persuadir, depois de ler um dia o Hortêncio, de Cícero, Agostinho foi de filosofia em filosofia à procura da verdade.
Quando ouviu as pregações de Santo Ambrósio, encontrou por fim o que tanto procurara. Agostinho converteu-se, foi batizado e, como já fosse filósofo antes de fazer-se cristão, notou que, após receber a graça do Espírito Santo, os problemas filosóficos que até então lhe pareciam tão intrincados e difíceis tornaram-se-lhe fáceis e cristalinos. É como se lhe houvessem “turbinado” a inteligência.
É o que faz primeiro o fogo do Espírito Santo, ajuda-nos a conhecer a verdade, para o que são necessários atos de inteligência, quer no estudo, quer na oração. Sim, também a oração é um ato de inteligência, porque nela o que se busca é a verdade sob a luz sobrenatural da graça. — Eis aqui uma conclusão prática para a vida: é preciso exorcizar de uma vez para sempre o espírito imundo do anti-intelectualismo que entrou em certos setores do catolicismo. Hoje, é comum ouvir dizer que não se deve estudar porque o estudo “afasta da fé”, como se a fé fosse coisa de ignorantes obcecados por superstições familiares… A fé não é isso. A fé é a virtude dos grandes sábios, dos Doutores da Igreja, dos santos que vieram antes de nós. Isso é a fé. Ora, é evidente que a sabedoria de Deus, para o mundo, pode parecer loucura; mas isso não quer dizer que os sábios de Deus não estudem.
O diabo quer que pensemos que a verdade é secundária, pois o que importa mesmo é sentir-se bem… Não, o importante não é ter sentimentos agradáveis; o importante é buscar a verdade A verdade muitas vezes não é agradável de ouvir, às vezes vai exige mudança de vida, mudança de projetos construídos por décadas a fio. Se você, por exemplo, dedicou a vida inteira ao estudo de bobagens, o Espírito Santo lhe irá mostrar no estudo, na meditação, na pesquisa etc., que você está errado. E o que você tem de fazer? Ter a coragem de jogar no lixo tudo e começar do zero. Não tenhamos apegos ao erro e à mentira. Estejamos dispostos a mudar de opinião. “Mas, padre, pelo amor de Deus! Já tenho tese de doutorado, tenho artigos publicados, tenho uma carreira montada em cima disso…”. É melhor perder o mundo inteiro e ganhar a vida eterna do que perder a alma para preservar a carreira. No Juízo final, quando estivermos diante de Deus, a banca a que teremos de responder não é a do orientador de tese, mas a de um justíssimo Juiz. Coragem! O Espírito Santo é fogo que ilumina.
O segundo efeito do fogo do Espírito Santo é aquecer. Uma vez que se viu a verdade e a inteligência por ela foi iluminada, imediatamente o Espírito Santo convida o coração a aderir concretamente a tal verdade. Pensemos numa vela. A vela está acesa: de longe, o que ela faz? Ilumina; mas quando nos aproximamos, ela também aquece. Quem busca a verdade vai se aproximando dela como quem se aproxima da luz e, com isto, do calor que dela emana. A verdade buscada sinceramente transforma a vontade.
“Acendei neles o fogo do vosso amor”, quer dizer, quando sabemos que Cristo é a verdade, ficamos como que apaixonados, queremos nos unir a Ele. Quanto mais luminosa for a luz da inteligência, mais avassalador será o ardor da vontade. Quanto mais compreendermos a verdade de Cristo, mais nos sentiremos atraídos por ela, a ponto de a nada darmos mais valor do que a Cristo. Pois o reino dos céus é como um tesouro escondido. Quem acha o tesouro, iluminado pela luz do Espírito Santo, vai e vende tudo alegremente para conquistar esse tesouro.
Assim entendemos como, em Pentecostes, os Apóstolos foram capazes — eles que estavam tão apavorados, com as portas fechadas por medo dos judeus — de sair com grande alegria e destemor a pregar o Evangelho. No fim dos Atos dos Apóstolos, São Lucas diz que os Apóstolos iam por todo lugar e pregavam com destemor, com parresía. Isso tudo quer dizer que, se temos no coração aquilo que mais amamos, ninguém será capaz de nos separar dele; logo, o medo desaparece. “Quem nos separará do amor de Cristo?”, diz São Paulo. “Nem a morte, nem a dor, nem a tribulação, nem a espada”.
Nada vai ser capaz de nos separar do amor de Cristo. Por quê? Porque Ele está dentro de nós. O Espírito Santo acendeu o fogo em nós. Se temos o tesouro que mais desejamos, e o temos dentro do coração, nada mais nos pode ameaçar. O mundo pode nos dizer: “Se você não quiser o que eu quero, tiro você do emprego”. Tudo bem; o nosso tesouro não é o emprego. “Ah! então eu vou difamá-lo”. Tudo bem; o nosso tesouro não é o bom nome. “Então tiro a sua saúde, a sua vida, os seus bens…”. Nada disso é o nosso tesouro. O nosso tesouro está dentro de nós. É Cristo Jesus. — Eis por que os santos e mártires têm tanta fortaleza, uma coragem extraordinária. O único medo que têm é o de perder Jesus, esse tesouro que se guarda dentro do coração.
É Pentecostes, e em Pentecostes o Espírito Santo desce de fato. Ele veio historicamente sobre os Apóstolos, mas quer vir ainda hoje sobre nós como fogo que ilumina e aquece. Que fazer para que isso aconteça? Primeiro, estar disposto a buscar a verdade e mudar de opinião. Metanoia, afinal, é mudança de mentalidade. Temos de nos desapegar de nossas convicções caprichosas. Se temos consciência de estar errados, deixemos a vergonha de lado e, por amor a Cristo, mudemos de opinião. Procuremos a verdade na oração. Se não estamos em graça de Deus, confessemo-nos quanto antes. Se nem sequer fomos crismados, corramos para receber o Espírito Santo. Ele vem para isso, para nos dar a força dos soldados de Cristo. Comunguemos com frequência e, sobretudo, tenhamos vida de oração, de meditação da Palavra de Deus. Assim teremos a nossa inteligência iluminada, a nossa vontade aquecida e a nossa vida transformada porque, de fé em fé, como diz São Paulo aos coríntios, o Evangelho será para nós uma força cada vez mais iluminadora, mais ardente, mais transformadora.
Que verdadeiramente um pentecostes aconteça em nossas vidas. Talvez não aconteça de imediato, quase num passe de mágica, porque ainda vacilamos em nossas decisões. Mas, se nos decidirmos pela verdade, um pentecostes irá acontecer: a luz que ilumina e o fogo que aquece farão nossa fé crescer, até chegarmos à estatura de Cristo.
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Cristo manifesta-se aos Apóstolos na ausência de Tomé (Lc 24, 36-42; Jo 20,19-25). — V. 36. Enquanto falavam estas coisas (João: como fosse tarde, οὖν ὀψίας = tempo vespertino, e as portas estivessem fechadas), apresentou-se Jesus no meio deles e disse-lhes: A paz seja convosco. Sou eu, não tenhais medo [1]. “Com razão agora lhes deseja a paz, a fim de que os que ficaram abalados e perturbados pela morte do Senhor e por medo aos judeus fossem renovados por sua ressurreição e presença, e soubessem agora que a verdadeira paz enfim foi dada aos homens por sua morte e ressurreição” (Jansênio, In Concord., c. 147, 541b).
V. 37s. Mas eles, turbados (θροηθέντες, em muitos manuscritos lê-se πτοηθέντες = aterrorizados) e espantados, julgavam ver algum espírito (em alguns manuscritos lê-se φάντασμα = espectro, fantasma). Jesus disse-lhes: Porque estais turbados, e que pensamentos são esses que vos sobem aos corações? (hebraísmo para: “Por que revolveis em vossas almas pensamentos inquietos?”).
V. 39s. Olhai para as minhas mãos e pés (João: as mãos e o lado), i.e., para as cicatrizes das chagas, e compreendei que sou eu mesmo, e se não é suficiente ver minhas mãos e meus pés, apalpai e tocai-os, se quiserdes, e vede, porque um espírito não tem carne, nem ossos, como vedes que eu tenho. Daqui se infere que o Senhor preservou as cicatrizes dos cravos após a ressurreição.
V. 41s. Mas, não crendo eles ainda pela alegria que sentiam e estando fora de si (assim conforme o texto grego; “o que causa muita alegria dificilmente é crível”, Agostinho, In Ps. 147, n. 17: ML 37,1927), comeu diante deles uma porção de peixe assado e de favo de mel [2], o que há de entender-se como verdadeira manducação, embora não como verdadeira nutrição; “não é o poder mas a necessidade de comer e de beber que perderão tais corpos [i.e., os glorificados]” (Agostinho, De Civ. Dei, XIII 22: ML 41,395).
V. 43. E como tivesse comido diante deles, tomando as sobras, deu-lhas (assim na Vulgata; em grego: “e, tendo-as recebido, comeu”) [3]. Noutras palavras, “tendo-os tomado, comeu-os à vista deles”, para que os discípulos pudessem dizer: Deus ressuscitou-o ao terceiro dia e fez que se manifestasse… às testemunhas que Deus tinha escolhido antes, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressuscitou dos mortos (At 10,40s).
João registra alguns detalhes de grande importância neste colóquio:
V. 21s. Novamente lhes deseja a paz, i.e., todo e qualquer bem: A paz seja convosco. Assim como o Pai me enviou, também vos envio a vós, quer dizer, com a mesma autoridade com que o Pai me enviou, também eu vos envio, e o mesmo poder que do Pai recebi, vo-lo dou também a vós, a saber: o poder de ensinar, de perdoar os pecados etc. — Tendo proferido estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. “O sopro é certo dom do espírito corpóreo [i.e., do ar]. E por isso era o <sinal> mais apto para significar o dom do Espírito incorpóreo, para que também por meio de coisas sensíveis fôssemos instruídos acerca das que sucedem interiormente na alma” (Caetano, In Ioh. 20,22, 423b).
N.B. — Isso parece contradizer as palavras do Senhor: Se não for (para o céu), o Paráclito não virá a vós (Jo 16,17); mas tenha-se presente que Cristo prometeu um advento do Espírito Santo visível e manifesto a todos, o que de fato se cumpriu na festa de Pentecostes; aqui, porém, fala da comunicação invisível do Espírito, feita embora por meio de um sinal visível (o sopro). Nesse sentido, “dando agora o Espírito… deu certo penhor da promessa que havia de cumprir-se após a ascensão” (Jansênio, In Concord., c. 147, 544a).
V. 23. Àqueles a quem perdoardes os pecados. Perdoar os pecados implica verdadeiramente apagá-los; ora, nem o verbo nem a forma empregada podem significar “cujos pecados declarardes perdoados” ou “pronunciardes que serão perdoados pela fé” ou algo parecido. — Àqueles a quem os retiverdes, i.e., não perdoardes etc.; logo, os Apóstolos são constituídos verdadeiros e próprios ministros do perdão dos pecados. Eis por que a Igreja sempre viu significado nestas palavras o sacramento da Penitência, ou seja, a potestade eclesiástica de perdoar os pecados e a obrigação individual de os declarar (de que modo, afinal, se pode julgar se os pecados hão de ser perdoados ou retidos, se não forem antes declarados em espécie e número?) [4].
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