Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9,14-17)
Aproximaram-se de Jesus os discípulos de João e perguntaram: “Por que jejuamos, nós e os fariseus, ao passo que os teus discípulos não jejuam?” Jesus lhes respondeu: “Acaso os convidados do casamento podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo lhes será tirado. Então jejuarão. Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo novo repuxa o pano velho e o rasgão fica maior ainda. Também não se põe vinho novo em odres velhos, senão os odres se arrebentam, o vinho se derrama e os odres se perdem. Mas vinho novo se põe em odres novos, e assim os dois se conservam”.
No Evangelho de hoje, Jesus está em controvérsia com os discípulos de João, que recordam o exemplo dos fariseus e se perguntam por que eles próprios e os fariseus jejuam, mas os discípulos de Jesus não. Em resposta, Nosso Senhor usa três comparações: a do esposo, a do remendo em pano velho e a do vinho novo em odres velhos.
Como interpretá-las? O que Jesus realmente está querendo nos ensinar? As interpretações são várias. Graças a Deus, temos na Igreja um tesouro riquíssimo para interpretar este texto, mas eu gostaria de partilhar uma leitura e meditação desses dias da Catena Áurea, obra compilada por Santo Tomás de Aquino.
Há uma reflexão de Remígio de Auxerre, abade medieval que, provavelmente, nenhum de nós leria se Santo Tomás não o tivesse compilado na Catena Áurea. Remígio, da época do renascimento carolíngio, teve uma intuição que eu acho brilhante. Ele diz mais ou menos: “Jesus não está exigindo jejum dos Apóstolos, porque eles ainda são homens velhos”.
Eles ainda são tecido velho, e não vale a pena pôr remendo novo; ainda são odres velhos, e não vale a pena pôr vinho novo. Por quê? Porque eles estão com o Esposo ao lado, Jesus. No fundo, estão como que se escorando nele, porque não foram renovados. Os Apóstolos ainda não foram renovados pela graça divina.
Não houve ainda a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus nem Pentecostes; logo, os Apóstolos não foram refeitos pela graça. Podemos, pois, fazer essa reflexão sobre o primado da graça: Deus quer a nossa conversão, quer a nossa mudança, por isso está sempre oferecendo a graça a todos os seres humanos. Até aos maiores pecadores a graça é oferecida.
Mas não pretenda nem queira você, com suas próprias forças, ser santo. Deus dá graça suficiente a todas as pessoas, porque quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade, e desde o início da conversão a graça está sempre presente para nos sustentar.
Então, nós que estamos em estado de graça, nos confessamos, comungamos etc., quando começamos a fazer jejuns, penitências ou alguma obra de apostolado, por assim dizer, mais “empenhada”; quando nos doamos e entregamos; quando fazemos caridade e o bem aos outros, pode haver um problema: o de esquecermos que tudo o que fazemos, o fazemos sustentados pela graça.
Você tem de se lembrar disso, senão cairá na soberba dos fariseus, no erro dos que, como pelagianos, acham: “Eu consigo com minhas próprias forças ser santo”.
Não, somos mendigos da graça divina. Então, a comparação de Jesus é esta: sim, o Senhor quer pôr em nós o remendo e o vinho novos, mas nós precisamos, primeiro, ser renovados por Ele, então, precisamos entender isto: de fato, a caridade, o amor dos santos, os atos heróicos que os santos são capazes de fazer, Deus quer que nós os realizemos, mas será Ele a realiza-los em nós — com a nossa cooperação, é evidente —, mas primeiro é necessário conviver com o Esposo na oração, para que a graça divina nos ajude a realizar as suas obras.
Compreendamos, pois, que, em tudo o que fazemos de bom, estão presentes o Espírito Santo e a graça de Cristo para nos ajudar.
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