Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12, 54-59)
Naquele tempo, Jesus dizia às multidões: “Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. Quando sentis soprar o vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente? Por que não julgais por vós mesmos o que é justo?
Quando, pois, tu vais com o teu adversário apresentar-te diante do magistrado, procura resolver o caso com ele enquanto estais a caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará ao guarda, e o guarda te jogará na cadeia. Eu te digo: daí tu não sairás, enquanto não pagares o último centavo”.
Se “vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu”, isto é, se sabeis pelos sinais atmosféricos quando virá a chuva e qual a época apropriada para semear e colher, “como é que não sabeis interpretar o tempo presente”, ou seja, o ‘καιρὸς’, o tempo oportuno e da colheita, não dos frutos do campo, mas da misericórdia divina? Jesus lança esta pergunta às multidões que o acompanham, em meio às quais havia muitos, sobretudo dentre os fariseus e saduceus, que a todo instante lhe pediam um milagre do céu (cf. Mc 8, 11; Mt 12, 38; 16, 1). É com um profundo suspiro de coração (cf. Mc 8, 12) que Jesus aqui repreende as turbas, que sabem reconhecer no céu as mudanças do ar e da temperatura, mas estão cegas aos sinais que mostram já ter-se cumprido a promessa de Deus e vindo ao mundo o Messias tão aguardado (cf. Gl 4, 4). É neste tempo — neste ‘καιρὸς’ — que vivemos, tempo em que estamos a caminho do julgamento, quando ainda temos a chance de reconciliar-nos com o nosso adversário, figura do próprio Cristo, a quem tanto ofendemos todos os dias, antes de sermos apresentados diante do Magistrado definitivo. Porque soará a trombeta e todos, sem exceção, deixaremos esse corpo mortal para comparecermos à presença do Juiz, num tempo em que já não haverá lugar para apelação: será o momento do juízo, proferido tão-logo entramos na eternidade. Não percamos, pois, um só segundo; aproveitemos os dias que nos restam de vida, cujo termo para nós é incerto e só conhecido de Deus, para implorarmos misericórdia e perdão; para corrigirmos nossos defeitos; para desatarmos os laços que nos prendem às criaturas; para sermos, enfim, achados fiéis a Cristo no entardecer da vida. Que a Virgem SS. nos alcance, por seus rogos e súplicas, a graça da perseverança final!
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