Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 8,1-11)
Naquele tempo, Jesus foi para o monte das Oliveiras. De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los.
Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Levando-a para o meio deles, disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio, em pé. Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu, também, não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.
Diz o Concílio Vaticano II, ao repisar a doutrina católica sobre a divina Revelação, que Jesus ensinava não só por palavras, ouvidas diretamente de Deus, mas também por gestos e ações, já que ver a Cristo, Filho encarnado, é ver o Pai (cf. Jo 14, 9), “com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres” (Constituição “Dei Verbum”, de 18 nov. 1965, n. 4). Isto significa que em cada passagem do Evangelho, sem prejuízo do seu caráter histórico e particular, encontramos também, de certa maneira, palavras e doutrinas registradas não com letras de tinta, mas com fatos concretos. Aplicado ao nosso Evangelho, esse princípio põe de relevo que a adúltera lançada aos pés de Jesus representa quer o povo do Antigo Testamento, que o Senhor desposara e ao qual manteve sempre suas promessas, apesar das infidelidades dos filhos de Israel (cf. Os 3, 1), e a alma de cada um de nós. Era adúltera aquela mulher, porque de fato quebrara o pacto matrimonial deitando-se com outro homem: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério”. Mas eram adúlteros também os acusadores, porque haviam fornicado em seus corações pondo tradições humanas acima da Lei divina e, pior do que tudo, rejeitando como a um estranho o próprio Filho encarnado: “Veio” como Esposo “para o que era seu, mas os seus”, como esposa infiel, “não o receberam” (Jo 1, 11). Vendo pois Cristo inclinado, a escrever no chão os nossos crimes, é hora de perguntar-nos: estará nestas linhas, as únicas que Ele traçou em todo o Evangelho, também o pecado da nossa fornicação, da nossa infidelidade? Não estaremos nós nos prostituindo a falsos esposos, dando a outros deuses — ao dinheiro, à sensualidade, à ânsia de poder, à soberba intelectual… — a adoração devida somente a Cristo? Não estaremos nós, por causa de pecados graves e não confessados, rompendo a comunhão de amor que nos deveria unir à nossa Cabeça e unindo a uma prostituta os membros do Corpo de Cristo (cf. 1Cor 6, 15)? É Tempo da Paixão, é tempo de fazer exame de consciência. Se nos pudermos confessar, não percamos um só minuto; se, pela crise atual, não for possível, imploremos a graça de uma contrição perfeita, a fim de, renovados pela graça, nos apresentarmos diante de Deus com vestes nupciais sem ruga de pecado, alvejadas pelo sangue do Cordeiro santo: “Eu, também, não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.
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