Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 2, 13-15.19-23)
Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”.
José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe, e partiu para o Egito. Ali ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu Filho”.
Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel; pois aqueles que procuravam matar o menino já estão mortos”.
José levantou-se, pegou o menino e sua mãe, e entrou na terra de Israel. Mas, quando soube que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Por isso, depois de receber um aviso em sonho, José retirou-se para a região da Galileia, e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno”.
Meditação. — 1. A Solenidade da Sagrada Família, que celebramos neste domingo, deve reforçar em nós a convicção certa de que a família conforme Deus criou é um dom precioso para a humanidade. Mais do que uma simples junção sexual entre macho e fêmea, ela é como que a síntese da criação divina, reunindo em si mesma a realidade material e espiritual. Sim, nós temos um corpo, mas temos também uma alma, um espírito pelo qual podemos estabelecer um vínculo familiar indissolúvel, que não se verifica em nenhuma outra espécie animal.
Nós, católicos, precisamos entender bem o significado do matrimônio, porque a maior parte das escolas e universidades tem uma doutrina bastante divergente da do Magistério da Igreja. Para essas instituições seculares, que acreditam mais na “teoria da evolução” do que na Revelação de Deus, o casal humano não é muito diferente do primata, senão pela quantidade de pelos e massa encefálica. O homem e a mulher seriam, no fim das contas, apenas macacos mais desenvolvidos.
Apesar de estranha, essa abordagem é mais comum do que se imagina, e já fazia sucesso no início do século XX. Não foi por menos que o escritor G. K. Chesterton escreveu a obra O homem eterno, para provar que existe uma grande diferença entre o gênero humano e os demais. Para fundamentar seu raciocínio, ele utilizava o exemplo do “homem das cavernas”, que tinha o hábito bem peculiar de desenhar: se ele era tão animal quanto as renas, concluía Chesterton, “é ainda mais extraordinário o fato de que ele soubesse fazer o que todos os outros animais não sabiam”.
Chesterton fazia seus contemporâneos notarem que o homem tinha, já no chamado período pré-histórico, uma natureza superior à dos outros animais. Diferentemente do macaco ou do chimpanzé, ele podia fazer obras de artes, por mais rudes que fossem. E somente um ser dotado de inteligência e vontade, as duas faculdades da alma, poderia fazer coisa semelhante. Mas não é só isso: podemos verificar que o homem pode rir, emocionar-se, cobrir o rosto de vergonha e, sobretudo, sacrificar-se por quem ama. Sendo assim, é impossível dizer que as relações humanas são apenas um estágio mais progredido dos primatas. Estamos diante de algo misterioso.
A família é, portanto, uma realidade profundamente espiritual, uma obra de arte que espécie alguma pode imitar. Homem e mulher não se unem apenas pela atração física, pelo impulso biológico que os leva à reprodução. Eles se unem pelo amor.
2. Infelizmente, a mentalidade atual não só nega a realidade espiritual do matrimônio, mas já chegou ao cúmulo de negar também a realidade biológica. Com isso, muitos países já adotaram leis legitimando novos tipos de configurações familiares, nas quais é possível uma criança ter dois pais e uma mãe, um pai e duas mães e assim por diante.
A realidade da Sagrada Família é, nesse sentido, um ato de grande sabedoria divina, com a qual nosso Deus veio ratificar a natureza da sua própria criação. Como um bebê humano, o menino Jesus quis encarnar-se no seio de uma mulher e desfrutar de um lar composto por um pai e uma mãe. E embora sua concepção tenha sido algo milagroso, toda a sua criação familiar desenvolveu-se de forma perfeitamente humana, recebendo os cuidados tanto de José quanto de Maria.
As Sagradas Escrituras nos atestam que São José precisou proteger “o menino e sua mãe” (Mt 2, 13) da sanha de Herodes, fugindo com eles para o Egito. De fato, ele agiu como um verdadeiro pai de família, a fim de salvaguardar a integralidade de seu filho e sua esposa. O papel de São José era tão proeminente, que a Virgem Maria não hesitava em colocá-lo à frente de si mesma: “Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição” (Lc 2, 48), disse ela a Jesus, quando este se perdeu em Jerusalém. E Cristo lhes era submisso, como um bom filho deve ser (cf. Lc 2, 51).
Com esse modelo eloquente, somos chamados a ter um ambiente onde a presença do pai, da mãe e dos filhos seja, de fato, familiar. Ou seja, devemos superar a ideia de que a única obrigação dos pais é a de sustentarem financeiramente seus filhos. Por conta dessa ideia, podemos dizer que, em muitos lares, as crianças estão órfãs mesmo tendo seus pais vivos. E enquanto seus pais preocupam-se apenas com o dinheiro, elas vão sendo educadas por um sistema de ensino absolutamente imoral.
Ora, José e Maria viveram integralmente para cuidar do menino Jesus, dando-lhe uma base familiar biológica e espiritual. Ele teve atenção, afeto, proteção, educação e, sobretudo, amor. Do mesmo modo, os pais católicos precisam aprender da Sagrada Família a levar uma vida segundo o projeto de Deus, para corresponderem tanto às necessidades físicas quanto às espirituais de suas crianças.
3. Hoje nossas escolas, públicas e particulares, seguem uma cartilha ideológica rigorosamente anticristã. A partir de teorias revolucionárias, muitos pedagogos, geralmente não cristãos, não temem incutir em nossas crianças toda espécie de bobagem, como ideologia de gênero, educação sexual e relativismo moral. Desde cedo, meninos e meninas são incentivados a negar a fé dos pais e escarnecer da Igreja Católica.
Em razão disso, a Igreja sempre defendeu o direito natural de a mulher assumir a educação domiciliar dos filhos. Essa é, sem dúvida, a tarefa mais sublime de um ser humano, e nenhuma mulher pode ser diminuída em sua dignidade porque preferiu ficar em casa com os filhos em vez de aventurar-se num trabalho lá fora. Apenas uma mentalidade muito pobre, denunciava Chesterton, acha que “as mulheres são livres quando servem aos seus empregadores, mas são escravas quando ajudam seus maridos”.
No fundo, o que a sociedade moderna mais teme é que os casais católicos assumam a educação das crianças. Para eles, a única grande doença é a educação católica. Por isso já existem casais que não conseguem adotar crianças simplesmente pelo fato de professarem a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. “Eles são católicos demais”, dizem os agentes do Estado.
Acontece, porém, que nós, católicos, devemos fazer valer nossos direitos civis, despertando as demais famílias para a vida espiritual dentro da Igreja Católica, de onde emanam os sacramentos da nossa salvação. Afinal de contas, nós cremos, sim, que a família natural, composta por um homem, uma mulher e seus filhos, é o ambiente adequado para a educação das próximas gerações, segundo a sã doutrina da Igreja Católica.
Jesus elevou o matrimônio à condição de sacramento justamente para que os casais pudessem conduzir seus filhos ao caminho santo do Céu. Inspiremo-nos, pois, na Sagrada Família e tenhamos a coragem de defender o matrimônio assim como Deus o desejou.
Oração. — Ó Deus de bondade, que nos destes a Sagrada Família como exemplo, concedei-nos imitar em nossos lares as suas virtudes, para que, unidos pelos laços do amor, possamos chegar um dia às alegrias da vossa casa. Amém.
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