Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 10, 17-22)
Naquele tempo, Jesus disse aos Apóstolos: "Cuidado com as pessoas, pois vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. Por minha causa, sereis levados diante de governadores e reis, de modo que dareis testemunho diante deles e diante dos pagãos. Quando vos entregarem, não vos preocupeis em como ou o que falar. Naquele momento vos será dado o que falar, pois não sereis vós que falareis, mas o Espírito do vosso Pai falará em vós. O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais e os matarão. Sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo."
Começamos hoje a Oitava de Natal. Após termos celebrado o nascimento do Filho de Deus, lembramo-nos neste sábado do primeiro daqueles que, por amor ao santo nome de Jesus, derramariam o próprio sangue: o protomártir Santo Estêvão. De fato, Cristo veio ao mundo para trazer-nos a verdadeira paz; mas, ao dar-no-la, Ele nos pôs ao mesmo tempo em pé de guerra com o mundo. A paz do Senhor é, pois, um espada que separa esposo de esposa, irmãos de irmãs, os que desejam amar a Deus dos que preferem rejeitá-lo. Com efeito, diz Nosso Senhor aos seus discípulos, se "o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós" (Jo 15, 18), porque o "servo não é maior do que o seu senhor" (Jo 15, 20). Eis aqui a "tragédia" da Encarnação: a Paz e o Amor fizeram-se carne, e nós os crucificamos; a Luz veio para o que era seu, mas os seus não a receberam (cf. Jo 1, 11); o Verbo, que fez mundo, veio ao mundo, e o mundo, odiando-o, pregou-o a uma cruz, entre dois ladrões.
Por isso, se o mundo odiou Aquele que, por amor, o criou, com maior razão haveria de odiar aqueles que dariam testemunho desse mesmo amor. Se, por um lado, os que são do mundo desprezam Aquele a quem pertencem, os que não são do mundo chegam ao heroísmo de entregar a própria vida por Aquele cujas palavras se comprometem a guardar (cf. Jo 15, 20). Essa parresía, essa coragem típica dos corações mártires está belamente plasmada no exemplo de Santo Estêvão. Sem preparar nenhum discurso, antes se deixando guiar pelo Espírito Santo, conforme o mandamento do Senhor, Estêvão transcendeu a prudência e lógica humanas: o seu discurso diante dos sumos sacerdotes, se sob uma perspectiva meramente terrena se assemelha a um suicídio, sob a perspectiva de Deus, ao contrário, é um verdadeiro nascimento. Nascimento de Estêvão para a vida eterna; nascimento de inúmeros cristãos, cuja esperança é regada pelo sangue de mártires como ele.
Que o seu exemplo nos inspire a abraçar este Amor que se esquece de si e vem aos homens para abrir-lhes as portas do Céus. Que este Amor nos dê as forças necessárias para o professarmos diante do mundo e, se for preciso, pagarmos com a vida o preço deste amor, desta fé, desta entrega.
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