Até aqui, falamos fundamentalmente do espírito de Cruzada que esteve na base da fundação e consolidação do reino português e que deu o impulso para as primeiras expedições no norte da África. E passamos todas essas aulas tratando desse assunto justamente para contrapor a visão historiográfica contemporânea, em grande parte de matiz marxista, para a qual as navegações não passaram de um ambicioso e malvado empreendimento mercantil.
Vimos, porém, ao longo das aulas, como essa visão é propositalmente miope. É verdade que tanto os cruzados quanto os navegadores buscaram, em algum momento, recursos econômicos para subsidiar as suas empreitadas, mas daí já fica claro que o comércio, o dinheiro, o lucro não eram os fins, mas os meios. As fontes de época deixam claro que o fim das navegações estava ligado à ideia de Reconquista, de retomada das terras outrora cristãs que se viam sob o domínio muçulmano.
Aliás, veremos como as expedições portuguesas pelo norte da África, especialmente na segunda metade do século XV, foram impulsionadas pela conquista dos turcos em Constantinopla, no ano de 1453. Essa derrota cristã deixou toda a Europa perplexa e fez reavivar no...