Dois erros fatais no estudo de história
Na aula passada, dei uma espécie de justificativa do curso. Curso este que é uma espécie de relatório, de meditação que venho fazendo, há anos, para entender por que esse país pobre de recursos naturais, o “finis terrae” da Europa, com apenas um milhão de habitantes, conseguiu se lançar ao mar.
À medida que prosseguia os estudos, percebi que para entender as navegações é preciso se livrar de dois vícios que tomaram conta da historiografia nos últimos séculos. O primeiro é o viés hegeliano de acreditar que a História é um ser autônomo, que caminha com as próprias pernas, como se os povos, tomados como entidades metafísicas, fossem sujeitos de certas ações. É uma História de matiz coletivista, uma História impessoal.
Camões, em linguagem poética, diz: “Eu canto o peito ilustre lusitano, / a quem Netuno e Marte obedeceram”. Ora, esse peito ilustre lusitano é uma figura de linguagem, um adorno poético, para exaltar a virtude de Portugal. Mas Portugal não tem virtude, porque Portugal não é uma pessoa. Se houve virtude, é porque existiram, concretamente, homens e mulheres virtuosos. Mas também existiram homens...