Chegamos agora num momento decisivo do curso, pois é nesse ponto, na Conquista de Ceuta, que, costumeiramente, se costuma iniciar a narrativa das grandes navegações. Nós, no entanto, tivemos que traçar um longo caminho até aqui, pois o nosso interesse não está tanto na história das navegações, mas nas suas causas, naqueles elementos materiais, psicológicos e espirituais que levaram os portugueses a essa empreitada colossal.
Nas nossas investigações até aqui, vimos que a identidade portuguesa foi se formando com base em duas sentenças negativas: Portugal não é Castela e Portugal não é islâmica. Quer dizer, uma baliza político-cultural e outra religiosa. Todavia, também há nisso um impulso positivo: Portugal tem uma vocação cristã, um chamado a espalhar a fé e desenvolver as virtudes ensinadas por Cristo. Ou seja, o espírito de cruzado é a identidade positiva do português dos primeiros tempos, do português que, após firmar-se na terra contra os dois inimigos de sempre, vai lançar-se ao mar a fim de espalhar por todos os continentes a fé e o império. Acontece que, até o ponto em que nos encontramos, essa vocação expansionista ainda era bastante inconsciente. Ela só...