Vimos que a história de Portugal, em seu início, foi marcada pela ação de pessoas nobres e santas, como Afonso Henriques, São Teotónio, São Geraldo, o arcebispo de Braga, Santo Antônio de Lisboa, Santa Isabel, a rainha, e as beatas filhas de Sancho I. No entanto, antes de atingir o seu ápice, com as grandes navegações e a formação do império ultramarino, o reino caiu numa profunda crise moral e quase se pôs a perder. Essa decadência moral, que antecedeu a glória, é o tema desta aula.
Comecemos por Dom Dinis. O plantador de naus [1], de quem falamos no último encontro, causou grande sofrimento à sua santa esposa, a Rainha Isabel, devido às suas muitas amantes e seus filhos bastardos, que rivalizavam entre si para suceder ao pai. Mas, apesar disso ser absolutamente reprovável, quando falo de crise moral, não me refiro a essa situação. Na verdade, essas traições eram efeitos cuja causa, essa sim, era preocupante, de modo que quase levou Portugal à perdição. Falo do efeminamento dos homens [2].
O reino começou com o espírito cruzado de Dom Afonso Henriques, o Conquistador. E o espírito de cruzado era marcado pela abnegação, pelo esquecimento de si, pelo...