Conforme temos visto, Portugal não existiria se não fosse o espírito de Cruzada. Mas, vale dizer, os portugueses não eram cruzados como os franceses, os ingleses ou os alemães. Luís Filipe Thomaz, historiador de argúcia filosófica, faz notar que o português era um cruzado menos fanático ou, por assim dizer, mais prático.
Aliás, esse é um traço bastante característico de nossos irmãos lusitanos. Por exemplo, um maçom espanhol desejaria matar o último bispo nas tripas do último padre. O maçom português, não: ele vai à Missa, comunga, faz novena ao Sagrado Coração de Jesus etc. Não significa que isso seja uma virtude. O fato é que o português tem essa cordura, essa docilidade, de que nós, no Brasil, somos herdeiros. Aliás, se não tivéssemos essa afabilidade, essa adaptabilidade lusa, já teríamos, dada as tensões políticas dos últimos tempos, desencadeado uma guerra civil em nosso país.
O português, portanto, é dotado desse espírito prático [1], que podemos opor ao fanatismo, pois o fanático acredita tanto nas próprias ideias que se esquece da realidade ao seu redor. Dito de outro modo: um fanático vai cego na direção daquilo em que acredita; um bom português,...