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Texto do episódio
1472

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 13, 1-15)

Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus. Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido.
Chegou a vez de Simão Pedro. Pedro disse: “Senhor, tu me lavas os pés?” Respondeu Jesus: “Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás”.
Disse-lhe Pedro: “Tu nunca me lavarás os pés!” Mas Jesus respondeu: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. Simão Pedro disse: “Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça”.
Jesus respondeu: “Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos”.
Jesus sabia quem o ia entregar; por isso disse: “Nem todos estais limpos”.
Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-se de novo. E disse aos discípulos: “Compreendeis o que acabo de fazer? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz.

Celebramos hoje, com grande alegria, a Quinta-feira Santa, iniciando assim o Tríduo Pascal, em que vivenciamos com muita fé os acontecimentos fundamentais para a nossa salvação.

Embora muitas pessoas não tenham ouvido isso na catequese, precisamos ter claro que a humanidade precisa de salvação. Se não entendermos que estamos perdidos, tudo o que Jesus realizará durante o Tríduo Pascal não terá o menor sentido.

Muitos olham para a morte de Cristo como um evento histórico de extrema crueldade: um homem bom que foi injustiçado e padeceu na Cruz. Contudo, não foi somente isso que aconteceu. Claro, Jesus historicamente morreu na Cruz e foi vítima do maior dos crimes; mas, além disso, no Calvário existe uma outra realidade acontecendo: a da nossa Redenção, ou seja, na Cruz nós fomos salvos. 

Antes de falarmos sobre os eventos salvíficos desses dias, devemos firmar a nossa fé no dogma da Redenção. Primeiro, precisamos entender que, devido aos nossos pecados, estamos condenados ao Inferno, que realmente existe e não está vazio; ao contrário, está cheio de anjos decaídos e seres humanos perdidos passando por um sofrimento sem fim, como, por exemplo, Judas, a quem a própria Escritura se refere como “o filho da perdição” (Jo 17, 12).

Os exorcistas, que a todo momento têm de confrontar os demônios, recebem notícias de que há muitas pessoas condenadas ao Inferno. Quanto a nós, temos a nossa alma em perigo a todo momento: podemos ir para o fogo eterno e sofrer eternamente. Por causa disso, Jesus, movido de compaixão e de um amor infinito, veio a este mundo para nos salvar. 

Deus é Amor infinito, mas, mesmo assim, anjos rebeldes se voltaram contra Ele por inveja, pois viram que Nosso Senhor estava planejando que ocupássemos seus lugares no Céu, e os tronos que antes pertenciam a eles agora seriam nossos. Tais anjos fizeram o pecado entrar neste mundo, de modo que agora estamos diante de uma batalha entre Satanás e Jesus. No entanto, neste Tríduo Pascal, Cristo sairá triunfante desse duelo e irá, como troféu de sua vitória, levar nossas almas para o Céu. 

Jesus sabia que, na Sexta-feira Santa, Ele seria entregue à morte pela nossa salvação — que a Igreja chama de salvação objetiva. O Amor de Cristo na Cruz é suficiente para resgatar a humanidade inteira, de todos os tempos e lugares. Mas essa salvação precisa ser aplicada pela Igreja na vida de cada um, por meio da conversão, do Batismo, do perdão dos pecados e da Eucaristia. 

Do que teria adiantado Jesus morrer na Cruz se, na noite anterior, Ele não tivesse instituído o sacerdócio católico? Imagine um mundo sem sacerdotes, onde não poderíamos receber os sacramentos e não haveria a Eucaristia celebrada e o perdão dos pecados no confessionário. Coloquemo-nos nessa situação para bem entendermos por que devemos celebrar com alegria a Quinta-feira Santa, acendendo todas as velas do altar e cantando o Glória, enquanto tocamos os sinos festivamente. 

O que seria de nossas almas se nunca tivéssemos encontrado um padre que erguesse a mão e dissesse: “Eu te absolvo dos teus pecados”? Que miséria seria de nossas vidas se não  recebessemos essa misericórdia de Deus chamada sacerdote! Como dizia o santo Cura d’Ars: “O sacerdote é o amor do Coração de Jesus”. 

Na Última Ceia, Cristo pensou individualmente em cada um de nós, dizendo: “Eu vou instituir o sacerdócio, porque esta pessoa vai precisar de um padre para lhe perdoar os pecados”. Jesus tinha isso diante dos olhos quando conferiu aos seus Apóstolos o sacramento da Ordem e quando disse: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19).

Assim, da Última Ceia, brotaram rios de salvação para a humanidade. Dali, partiram sacerdotes missionários que atravessaram mares, escalaram montanhas, foram aos quatro cantos do planeta para levar não somente a salvação, mas também as graças que Cristo conquistou para nós em sua vitória: o Batismo e a Eucaristia.

Estamos no Tríduo Pascal e, com os anjos, louvamos a Deus, dizendo: “Senhor, a eternidade não será longa o suficiente para cantar as vossas misericórdias”. Ela começa esta noite, onde glorificamos a Deus com as palavras: “Ubi caritas et amor, Deus ibi est” — “Onde está o amor e a caridade, Deus aí está”.

Que seja abençoada esta Quinta-feira Santa e que a salvação chegue aos nossos corações, para celebrarmos com dignidade a Ressurreição e a Vitória de Cristo.

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