A primeira pergunta que nos deveríamos fazer no início de uma catequese, quer como catequistas, quer como catequizandos, é a seguinte: qual é, afinal de contas, a finalidade do Catecismo? Pois sem uma clara noção do fim a que queremos chegar, de nada nos adiantarão os meios, por mais sofisticados e bem pensados que sejam. E é precisamente aí, nessa falta de clareza quanto à meta que desejamos alcançar, que está a razão por que as nossas catequeses parecem dar tão pouco ou nenhum resultado. Nesse sentido, toda preocupação por questões de método que prescinda de uma resposta adequada à pergunta pelo fim não passará, se assim podemos dizer, de pura “cosmética”, de algo acessório e menos do que secundário.
Eis porque, no início de uma boa catequese, devemos perguntar-nos antes de tudo pelo motivo último de nossa existência. O que é, trocando em miúdos, que viemos fazer neste mundo? Qual o sentido e, portanto, a finalidade da nossa vida? A resposta a esta inquietante dúvida, que vem atormentando o espírito humano desde as suas origens, a fé católica no-la dá sem rodeios e com uma validez universal. Nós viemos ao mundo para, através do amor, chegarmos um dia a unir-nos a Deus na felicidade eterna do céu. Fomos criados, noutras palavras, para ser felizes, e essa felicidade consiste em possuir, para sempre e sem medo de perdê-lo, o maior bem que há e pode haver: Deus mesmo.
O homem, com efeito, é uma tarefa por fazer, um projeto a completar-se. Não somos como os outros animais, que, apenas nascem, têm tudo aquilo de que precisam para ser o que são. De fato, não se tem notícia de nenhum cachorro que numa fresca manhã, cansado de roer osso, se tenha parado a pensar no propósito da vida, inquieto por saber se não haveria coisas maiores e mais nobres do que passar os dias deitado com a barriga virada para o sol. A uma vaca lhe basta, pois, o seu pasto, e ela não tem razão alguma para perturbar-se nem com o futuro nem com o que pensa o resto do rebanho.
O homem, porém, ainda que possua todo o necessário a uma vida cômoda e bem resolvida, nunca está satisfeito; parece-lhe sempre faltar algo, algo que lhe exige ação, que o faz mover-se em busca de outros bens além daqueles de que já desfruta. Palpita dentro de nós esse desejo de uma felicidade perfeita e adequada à nossa natureza humana, e é na medida em que nos aproximam dessa felicidade que esta ou aquela ação, esta ou aquela coisa podem considerar-se bens. A palavra bem, nesse sentido, refere-se a uma realidade objetiva, ou seja, àquilo que, sendo conveniente ao nosso modo humano de ser (o bem da vaca, com efeito, não é o bem do homem), contribui para a nossa plena realização como seres humanos.
Mas como o desejo de uma felicidade perfeita e infinita não pode ser satisfeito com bens imperfeitos e finitos, somente em Deus, nosso Sumo Bem, seremos verdadeiramente saciados. Uma vida repleta de prazeres e facilidades a que sucedesse a eternidade do inferno seria, é claro, um retumbante fracasso, seria uma vida malograda, em que ficamos, como bobos, à beira do caminho, esquecidos de que o ponto de chegada não está aqui — está no céu, na outra vida. O motivo por que o homem está neste mundo, portanto, é para amar e servir a Deus e depois, na felicidade do céu, estar eternamente unido a Ele como ao Bem sumo e perfeitíssimo.
O problema agora consiste em saber como e por que meios alcançaremos esse fim. Ora, se existimos para nos unir a Deus, por um lado, e a união é efeito do amor, por outro, segue-se que a primeira coisa que nos compete fazer é conhecer a Deus com a maior profundidade possível. De fato, ninguém ama aquilo que desconhece, e se não amarmos a Deus, como poderemos unir-nos a Ele? Não desejamos o que ignoramos, e se não o desejamos, sequer nos preocuparemos em possuí-lo.
Mas para conhecermos a Deus, é preciso que Ele mesmo, que habita em luz inacessível, se nos dê a conhecer. E foi em Jesus Cristo, seu Filho encarnado, que Ele quis revelar-se à humanidade. A essa revelação, por sua vez, só podemos aderir como convém à salvação mediante a fé. É crendo no que Deus nos disse de si mesmo que o conhecemos e é ao conhecê-lo que o amamos e nos dispomos à união eterna com Ele. A fé, por conseguinte, é o primeiro meio de que precisamos lançar mão para chegar ao fim último de nossa vida.
Além da fé, que nos dá acesso aos segredos da vida íntima de Deus, é necessário amá-lo, o que se faz, segundo as palavras do Salvador, pela obediência aos Mandamentos: “Se me amais, guardareis os meus Mandamentos” (Jo 14, 15). Mas como poderíamos fazê-lo se não nos fosse dada a graça de o fazer? Sim, somos fracos e incapazes; sem Deus, nada podemos fazer, e sem a sua graça preveniente sequer poderíamos ter a boa inspiração de suplicar o seu auxílio do fundo de nossas misérias. Essa graça, porém, nós a conseguimos por dois meios principais: de um lado, os sacramentos, que no-la conferem por virtude própria (ex opere operato); e a oração, de outro, pela qual podemos impetrar da misericórdia divina os socorros de que mais tivermos necessidade.
Eis aí, de forma bem resumida, a dinâmica da vida cristã na qual se inspira a arquitetura do Catecismo da Igreja Católica [1]. Na primeira parte, aprendemos em que consiste a revelação divina e a fé pela qual respondemos à palavra de amor e salvação que Deus nos dirige por meio do Filho. Na segunda parte, aprendemos de que maneira o Senhor nos concede os frutos de sua redenção por meio dos sacramentos. Na terceira, vemos como a graça divina nos permite cumprir a Lei de Deus e alcançar, assim, nosso fim último. Na quarta parte, somos apresentados à riqueza e importância fundamental da oração cristã como meio indispensável para conseguir os bens que o Pai celeste quer nos dar.
É este o itinerário que iremos percorrer ao longo deste curso de catequese.