O Primeiro Mandamento, dentre outras coisas, serve para que as pessoas se deem conta do que é ter um Deus. Ora, se há um Deus, um Criador, o ser humano, por definição, não se pertence. Eis porque o homem moderno revolta-se contra a divindade. Por isso, o jovem Marx citava a frase de Prometeu esquiliano: “Eu odeio todos os deuses”. Nietzsche, nas suas “Ilhas bem-aventuradas”, dá o tom exato dessa rebeldia: “Se houvesse deuses, como poderia eu suportar não ser um? Logo, os deuses não existem” [1]. O homem moderno não pode admitir a existência de Deus pois, no fundo, quer tomar-lhe o lugar. Por isso, o filósofo Nicolai Hartmann afirmava exatamente a necessidade de o homem dos nossos tempos dar-se conta do que é se ter um Deus. Ter um Deus implica que nossa existência pertence inteiramente a Ele e está voltada para Ele. É uma relação necessária entre Criador e criatura, entre Senhor e servo.
No entanto, o homem, invertendo a ordem das coisas, quer muitas vezes que Deus o sirva. E aí entramos no aspecto mágico do pecado. Ora, magia é aquilo que o homem faz para controlar poderes que lhe são superiores. E isso, inadvertidamente, pode ser realizado até mesmo nas nossas...